"a-maior-função-do-homem-no-mundo-é-transformar-se-em--literatura" - Reinaldo Santos Neves

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Entrevistando Contemporâneos & Independentes: Latinidades & Representatividade - Thiago Tizzot




"É uma posição que eu considero privilegiada, poder acompanhar todo o processo, da escrita até o leitor, dá uma perspectiva única sobre todas as atividades.


Thiago Tizzot

Como a literatura entrou em sua vida?

Thiago: Ela meio que sempre esteve presente, minha mãe era professora de literatura, então os livros sempre estiveram pela casa. Mas acho que quando li o Hobbit foi quando a coisa ficou séria. Comecei a estudar e a me informar mais sobre o assunto.

Qual foi o papel da leitura para a construção do seu eu autor(a)?

Thiago: Fundamental, até hoje é, junto com a prática, a coisa mais importante para continuar evoluindo.

Consegue viver de literatura?

Thiago: Como escritor não, mas tudo que faço está ligado com os livros.

Quais os desafios de escrever ficção fantástica no Brasil, principalmente quando se tem concorrentes tão expressivos como Tolkien, R.R.Martin entre outros?

Thiago: A literatura fantástica brasileira aos poucos vem conquistando seu espaço e hoje tem muita gente nacional em grandes editoras e com vendas expressivas de livros. Um dos desafios agora é a concorrência nacional, o que é uma alegria poder dizer. Mas não tem muita diferença das dificuldades de qualquer pessoa que escreve. Conseguir espaço em uma boa editora, ter leitores e uma sequência de publicações. Não é fácil.

Qual a maior dificuldade que encontra para chegar ao público leitor?

Thiago: Conseguir o seu espaço e seus leitores. Tem muita gente boa produzindo, para um público que não é tão grande assim. É muito importante termos programas de incentivo à leitura. Além da produção escrita, hoje temos muitos lançamentos, todos mês tem livros e mais livros sendo lançados. Você precisa encontrar alguma forma de fazer com que seu livro seja notado.

"A literatura fantástica brasileira aos poucos vem conquistando seu espaço e hoje tem muita gente nacional em grandes editoras e com vendas expressivas de livros.

Thiago Tizzot

Quais são suas referências literárias?

Thiago: Não tem como não dizer Tolkien, foi estudando a forma que ele criou a Terra-média que comecei a escrever. Mas uma das melhores coisas que fiz foi abrir as minhas leituras, não ficar apenas na Fantasia. Tem um autor aqui de Curitiba, o Manoel Carlos Karam, que eu gosto muito. Mas cada leitura traz uma coisa nova, um detalhe que guardo para tentar colocar na minha escrita.

Eu como apaixonado e jogador de RPG de mesa já imaginei – e com certeza irei usar Breasal ou seu deserto de Tatekoplan em uma de minhas campanhas – quero saber se você já jogou ou foi influenciado por algum Rpg? Já imaginou a história de ‘Três viajantes’ adaptada para esse universo?

Thiago: Breasal veio de uma aventura de RPG. O começo surgiu ali, depois eu fui criando e colocando outros elementos, mas a ideia inicial é baseada no mundo que servia de cenário para o RPG. Por isso faria todo o sentido ter Breasal em um RPG.

Lida bem com as críticas?

Thiago: Creio que sim, nunca é legal saber ou ler que alguém não gostou dos livros, na hora dá um desânimo, mas depois passa. Desde que comecei a publicar sabia que é impossível todo mundo gostar das histórias. Faz parte do trabalho.

Como está sendo o retorno (feedback) das leituras?

Thiago: É muito bom, uma das coisas que mais me dá alegria é que uma coisa que quase todo mundo fala é que está curioso para ler os outros livros e conhecer mais sobre o universo. Eu sempre vejo cada livro como uma nova peça para dar forma e vida a Breasal.


Atualmente há um crescimento visível de produções audiovisuais e adaptações de obras literárias, um exemplo recente é Duna de Frank Herbert, chegando ao público leitor. Como isso impacta na produção brasileira e consequentemente no mercado livreiro nacional?

Thiago: Eu acho que é positivo, se bem trabalhado, é uma forma de levar os leitores para a literatura fantástica e descobrirem a produção nacional.

Você além de escritor é também livreiro e editor na Arte & Letra, uma livraria e parque gráfico em Curitiba que trabalha o livro de forma artesanal. Como é trabalhar com a palavra desde o livro, a produção, venda da prateleira até a estante do leitor? Qual a importância das pequenas livrarias e as independentes no Brasil hoje?

Thiago: É uma posição que eu considero privilegiada, poder acompanhar todo o processo, da escrita até o leitor, dá uma perspectiva única sobre todas as atividades. Você acaba ao mesmo tempo pensando em todas as etapas quando faz uma. Por exemplo, quando escrevo, meio que já penso como editor e o impacto do livro na livraria. Acho que você acaba mais consciente das coisas, vivenciando todas as etapas no dia a dia. As pequenas livrarias e as independentes são fundamentais, são elas que vão dar a visibilidade e a bibliodiversidade necessária para que tantas pessoas que escrevem encontrem seus leitores. Sobre todas as aquelas dificuldades que eu falava, sobre conseguir seu espaço e se conectar aos leitores, a livraria independente ajuda e ajuda muito. Elas são fundamentais para termos novas histórias, novas ideias circulando.

O que seria de sua vida sem as letras?

Thiago: Um pouco mais triste, a literatura me proporciona muita coisa boa.

Dê uma (ou mais) dica(s) para quem quer ser escritor:

Thiago: Escreva muito.
Leia sempre.







Thiago Tizzot é apaixonado por livros de fantasia e J.R.R Tolkien. Autor de Três viajantes, de 2014, A ira dos dragões, de 2009, e Segredo da guerra, de 2005, comanda também a livraria e editora Arte & Letra, em Curitiba.