Entre o céu e o inferno há a poesia-gozo de Ingrid Carrafa, com seus versos crus e ensanguentados, apodrecendo num mundo caótico.
“Você nasceu com a marca das libertas.
E o seu castigo é a solidão de várias camas.” - Pág. 22
Seu livro é uma oferenda profana, com sua rima inumana, aos leitores e leitoras sedentas de saciar sua fome de uma poesia nua e crua.
“meu coração está sendo comido vivo pelas moscas varejeiras na parede[...]” - Pág. 24
A maioria de seus textos contam uma história, nem sempre alegre, alguns temas que permeiam poética de Ingrid são: a solidão, depressão, erotismo, morte, loucura.
“Ontem à noite abrir as portas do meu coração e encontrei
uma cidade fantasma[...]” - Pág. 38
Ela conta sobre corpos frios, secos da rotina, no mundo vazio de troca de sentimentos. Onde capitalismo manda os outros pré-conceitos comandam.
“Em mim, uma mulher está se afogando.
Percebo seu riso triste resignado
quando ela me olha e diz:
- O amor, Ingrid,
Tem uma graça sulfúrica.” - Pág. 61
Suas personagens principais: mulheres desabrigados de amor e homens acostumados aos privilégios de nascerem homens.
“Minhas vísceras estavam silenciosas
esperando o próximo copo de cerveja.” - Pág. 77
Em um poema sem título, um poema-manifesto, a autora dá aos ‘humanos’ uma nova opção que não o inferno e os rios de lava. Novamente uma afronta os puritanos e ao sagrado destino final de todos. No fim: a morte.
“A sina de carregar dentro do peito
a chaga de estar viva, porém inabitada.” - Pág. 87
Ingrid trabalha como ninguém tanto eu lírico masculino quanto feminino em suas prosas poéticas fortes, potentes e bem construídas.
“Passo pela Av. Lindenberg,
Estou voltando do trabalho.
Faz frio e está tarde.
Algumas prostitutas e travestis fazem ponto;
Hoje irão aquecer algumas solidões.” - Pág. 101
Amores vêm e vão, o que sobra na prosa poética de Carrafa é um pesado sentimento de ressaca, ainda resiste um coração cheirando a cana barata e cansado destas passagens dos que juraram ficar.
“[...]quer me foder vida?
Me beija antes!” - Pág. 115
Uma frase que reflete um pouco do que a escritora versa, sem floreios nem enfeites desnecessárias, simplesmente para informar que as coisas as vezes são como são. Isso me faz gostar cada vez mais da poesia de ‘E quando borboletas carnívoras dançam no estômago’.
“Às vezes as coisas são apenas o que parecem ser,
sem nada demais.” - Pág. 124
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