Eu, travesti: Memórias de Luísa Marilac e Nana Queiroz (Editora Record, 2019)
“— E teve boatos que eu ainda estava na pior. Se isso é estar na pior, PORRAM! O que quer dizer tá bem, né?” - Pág. 168
O livro de Luiza e Nana é um escândalo! Nele as autoras escancaram a noite, fetiches estranhos de homens ‘héteros’ e, é claro, a vida das travestis que fazem seus pontos nas calçadas pelo país.
“Mas antes de ser travesti e de ser puta, eu fui criança como todo mundo. E eu tinha um corpo que não era nem de menino, nem de menina. Era só um corpo de gente. Um corpo todo.
Corpo de criança não tem rótulo ou sessão.” - Pág. 23
A heteronormatividade em xeque. É o que este livro me mostrou. Além da história de uma das ativistas pelos direitos LGBTQIAP+ no Brasil, uma das mais relevantes e sinceras.
“Ocó foi a primeira palavra que aprendi. Significa homem. Mapô é mulher, bofe é homem também. Neca é o pinto, edi é ânus e aquendar é dar, ou esconder, disfarçar - porque a gente aprende as coisas que importam primeiro.” - Pág. 44
O que mais me cativou neste ‘EU, travesti’ foi o fato de ser um papo limpo, direto e reto com Marilac. Me senti de frente para ela, conversando com uma amiga, que confidencia sua vida como um livro escancarado.
“No Brasil e na maioria dos países que fornecem dados à ONU sobre tráfico não existe treinamento de pessoal para contabilizar cabeças de quem não deveria existir socialmente. Sumimos, invisibilizadas nas estatísticas.” - Pág. 97
Como se já não bastassem os preconceitos sofridos, o texto é carregado de agressões físicas, psicológicas, tráfico sexual, exploração, etc. O pior dos lados do desejo ‘humano’.
“Todas nós tínhamos um prêmio sobre a cabeça. Éramos todas marcadas pra morrer por sermos abominações sociais.” - Pág. 121
É um livro curto, mas pesado, seus capítulos breve são um pedido de suspiro que você, leitora deve fazer. São eles que tornam a leitura fluida e um pouco mais leve.
“A felicidade tem a teimosia de brotar de coisas podres e desajustadas.” - Pág. 35
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