Desde que assisti ao documentário ‘Holocausto Brasileiro’, baseado no livro homônimo de Daniela Arbex (Geração, 2013) venho me interessado pelo tema. E ter lido Lima Barreto só acendeu minha curiosidade.
“Não me incomodo muito com o hospício, mas o que me aborrece é essa intromissão da polícia na minha vida.” - Pág. 09
Lima Barreto, assim como Daniela, já vinha denunciando os terrores - isto lá na década de 1920 - do ‘hospício’, no seu caso o Hospital Nacional de Alienados onde o escritor foi internado pela primeira vez em 1914.
“Esta passagem várias vezes no hospício e outros hospitais deu-me não sei que dolorosa angústia de viver que me parece ser sem remédio a minha dor.
Vejo a vida torva e sem saída.” - Pág. 42
Em ‘Diário do hospício’, o autor escancara o que se escondia pelas grades do manicômio, lugar que serve de aparato para um sistema excludente. De pessoas, de classes e raças dominadas. Como Lima escreve em um dos trechos de seu livro: “a ciência é muito curta[…] é melhor empregar o processo da Idade Média: a reclusão.” - Pág. 45. Sistema este até hoje amparado pela polícia e a religião.
“[…] o nosso sistema de tratamento da loucura ainda é o da Idade Média: o sequestro. Não há dinheiro que evite a morte, quando ela tenha de vir; e não há dinheiro nem poder que arrebate um homem da loucura. Aqui, no hospício, com a suas divisões de classes, de vestuário etc., eu só vejo um cemitério: uns estão de carneiro e outros de cova rasa. Mas, assim e assado, a Loucura zomba de todas as vaidades e mergulha todos no insondável mar de seus caprichos incompreensíveis.” - Pág. 49
Além de uma bela descrição do Rio de Janeiro daquela época, que o autor faz na página 50, sua obra destaca a necessidade de questionarmos a justiça e Barreto filosofa ainda sobre a liberdade em suas páginas. Também escreve diariamente sobre as pessoas que passava por ele, fotografias do tempo, que se completam com as ilustrações do livro.
“As leis são como as teias de aranha que prendem os fracos e pequenos insetos, mas são rompidas pelos grandes e fortes.” - Pág. 61
Nesta impecável edição, que saiu pela editora Borda (2020), destaco as ilustrações do artista capixaba Luciano Feijão que utiliza de seus traços e pesquisa para discutir práticas racistas aliadas à políticas cientificistas.
Uma edição perfeita para você que aprecia a literatura atrelada às artes visuais.
“[…] vi, naquele desgraçado, a imagem
da revolta. Esse acontecimento causa-me apreensões e terror.
A natureza deles. Espelho.” - Pág. 81
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