Me seguro para não bisbilhotar a última frase já que Marília é imprevisível.
Marília Carreiro é, sem dúvidas, aquela vontadezinha de ir até o fim antes mesmo de iniciar qualquer uma das leituras de seus contos.“O céu estava parcialmente nublado, sem estrelas, mas a lua amarelo-fogo foi a única que presenciou os seus olhos marejados, molhando sua visão já turva, vítima da retaliação.” (Pág 28)
Imagine-se no parapeito do décimo primeiro andar de um prédio prestes a se jogar. Pois é assim que conhecemos um dos personagens da autora. Passamos com ele toda angústia e desafios de sua mente.
Já pensou presenciar o pânico de uma mulher prestes a ser assassinada brutalmente? ‘Amors e outros contos’ te insere nestes universos únicos é intrigantes.
“Já deitada, sentiu-se afortunada por ter nascido e vivido ao som do congo. Durante toda a tarde relembrou músicas, tempos e personagens que passaram por sua vida-congo. Quando o sol se pôs e deu-se a última batida do tambor, tudo emudeceu.” (Pág 50)
Como acha que a ‘dona’ morte se parece? Esqueça. Ela, definitivamente, não se parece em nada que se passou por sua mente.
Em ‘Amors’ a autora nos mostra suas versões um tanto quanto peculiar do ‘fim’ da vida.
“Levei-a até a margem e deitei-a em meus braços. Gélida, encharcada, tenta a dormir, quem sabe que sono. Estava pálida, mas sorria, tristemente.” (Pág 75)
Em um dos contos, ‘Rosa’, o personagem narra sua saga onde vaga pela casa de seu amor-não que falecera meses antes, lá encontra lembranças duras e uma verdade cruel, do jeito que Marília sabe muito bem tatuar em seus textos.
“O impacto da terra semi-úmida sendo lançada deliberadamente para dentro da rotura, produzindo sons cada vez mais abafados, cada vez mais sufocantes. Mas dessa vez, não vejo a cena de longe. Está frio e escuro.” (Pág 88)
Os contos são verdadeiros ‘instantes de pausado mundo’. É o cinza que não conseguimos observar no corre-corre de nossos dias. A facada que nunca levaríamos.
Título: Amors e outros contos
Autxr: Marília Carreiro Fernandes
Editora: Secult
Páginas: 94
Gênero: Contos
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