O romance de Rachel é quase que totalmente de cunho social, uma história regionalista - passada toda no sertão cearense -, onde a autora expõe toda a luta do seu povo contra a miséria e a seca. O livro inclusive é retratado pelo crítico Adolfo Casais Monteiro, em um estudo lançado em 1964, como “o mais notável, senão o único verdadeiro romance social brasileiro.”
“Os meninos […] exigiam com força o que beber; gemiam, pigarreavam, engoliam mais farinha, ou lambiam algum taco de rapadura, entretendo com o doce a garganta sedenta.” - Pág. 26
É uma obra seca, com gosto metálico de sangue e morte, de sonhos e desejos, até o seu clímax onde os fantasmas da seca são espantados pelos pingos da chuva que derramam sobre as cabeças quentes após um longo período de estiagem.
“Chuva fresco e alegre que Tamborilava cantando na velha telha, e corria nas biqueiras empoeiradas, e se embebia depressa no barro absorvente do terreiro!” - Pág. 99
Uma das passagens que mais me marcou foi a cena em que a personagem principal chega aos ‘campos de concentração’ - assim nomeados pela escritora -, lugar onde são levados os sertanejos retirantes que deixam sua vida e sua cidade por causa da falta d’água e consequentemente a fome que assola o povo.
“Por que, em menino, a inquietação, o calor, o cansaço, sempre aparecem com o nome de fome?” - Pág. 28
São retratados no romance de Rachel alguns problemas que perpassam o tempo como racismo e machismo, mas também é dado uma mostra da evolução de lutas sociais necessárias como o feminismo. É neste livro que conheci uma personagem independente, desprendida dos padrões sociais da época e da tradicional família brasileira.
“[…] quando a gente renuncia a certas obrigações, casa, filhos, família, tem que arranjar outras coisas com que se preocupe[…]” - Pág. 92
Rachel de Queiroz foi a primeira mulher a entrar para a ABL; uma instituição patriarcal que começou uma mudança dando este passo… Ou não.
‘O Quinze’ foi adaptado para o cinema como filme homônimo, em 2004, dirigido por jurandir de Oliveira.
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