Vanessa Londoño (Editora Peabiru, 2022)
Com primeiro romance da colombiana Vanessa Londoño a editora Peabiru inaugura a sua trajetória no tão competitivo mercado editorial brasileiro e já chega com os dois pés na porta.
“A literatura, eu acho, está no ato de restaurar a vitalidade dos membros decepados e no contar histórias dos corpos que teimam em lembrar das partes mutiladas e de seus fantasmas.” - Pág. 7
Com uma escrita muito poética e visceral Vanessa nos apresenta - em pouco menos de 100 páginas, numa história dividida em quatro partes - ao cerne do que entende-se dos povos latino-americanos: a pobreza, a crueldade que vem com a exploração, uma ditadura velada. É uma leitura densa, com longos parágrafos.
“Enquanto passávamos fome, o vilarejo estava cheio de turistas que se precipitavam sobre as varandas e ruas do calçadão, esperando os camponeses que chegavam com suas oferendas nas costas até chegar à porta principal da igreja.” - Págs. 38/39
São quatro histórias que se cruzam, em um texto quase insólito, seus capítulos unem-se neste romance sensível, pesado e cruel o que Vanessa nos presenteia.
Há no livro também algumas lembranças e sonhos quase palpáveis, em descrições completas, que torna o texto mais próximo da gente.
“O certo é que esse cheiro de origem, esse cheiro quase primitivo que tem a terra quando amolece nos faz pensar que as lembranças que se passam na chuva merecem ser retomadas[…]” - Pág. 45
O cercos vão se fechando, aquela construção traçada por Vanessa nos três primeiros pedaços do livro se encontram numa narrativa intensa, forte. ‘Cerco Animal’ é um dos livros mais impactantes que li este ano.
“Disseram que debaixo daquele rio estavam não só os corpos da avalanche, mas os que há muito tempo haviam sido jogados ali.” - Pág. 57
A escritora mostra que, apesar da brutalidade ser a herança dos latinos, não levamos adiante os ocorridos de uma história trágica. Ela descreve, em seu texto, um ciclo de batalhas, não de desistência.
“Se me deixo levar o bastante, posso ouvir a terra deslizando suavemente em seu contato com a tempestade e reciclar-se em seus nutrientes. Eu também moro nela.” - Pág. 95
⚠️GATILHOS: abuso sexual, estupro, fome/miséria, assassinato
Nenhum comentário:
Postar um comentário