Guananira (Editora Maré/A lápis, 2019)
Bernadette declama Vitória como os poetas do século XIX, quase sempre com olhar contemplativo, mas sua visão moderna não deixa escapar os descasos pela sua ilha.
“O Centro de Vitória é como uma caixinha de nossas memórias, é como labirinto em que se cruzam os vivos e os mortos. Pena é que, todos eles, os mortos e os vivos, diariamente tropeçam naquelas maltratadas calçadas que, por descuido ou omissão daqueles a quem caberia cuidá-las, abre em lascas, fendas e feridas ao longo das ancestrais ruas do Centro.” - Pág. 22
‘Guananira’ é um livro de crônicas leve e memorialístico, com textos que beiram a prosa poética, um livro gostoso e de leitura muito fluida.
“Uma nostalgia que ultimamente vem me atacando… Costuma dar em escritores e em camaleões. É coisa de insignificâncias, portanto. Mas, graças a isso é que se sabe: para quem pisa com amor sobre o solo bendito desta Vitória/Guananira nada está perdido. Não estão perdidos nem o sentimento, nem o afeto, nem mesmo a formosura das pedras.” - Pág. 26
São textos curtos, um passeio pelo emaranhado de ruas, vielas, calçadas, praias e montanhas: Guananira é essencialmente banhada pelas crônicas de Bernadette. Uma verdadeira cartografia poética da ilha de Vitória.
“Porém, a verdade é que eu sou uma capixaba alucinada de amor… qualquer coisa do Espírito Santo me toque… para que todo o meu ser se reparta e… eu me lembre que estou permanentemente em exílio.” - Pág. 99
Se você quer conhecer um tiquinho do coração do Espírito Santo, pelos olhos de uma das grandes autoras daqui, este livro é uma boa pedida, um ótimo começo.
Bernadette é quase uma guia turística que nos leva pelas veias de Vitória.
Aproveite a viagem,
Boa leitura!
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