"a-maior-função-do-homem-no-mundo-é-transformar-se-em--literatura" - Reinaldo Santos Neves

sábado, 17 de setembro de 2022

‘A boa bicha’ (RESENHA)

 


‘Gay’ não é xingamento.

‘Bicha’ é elogio.

“É experimental, é bicha e os leitores olharam e serão olhados durante o contato com essas histórias que materializam esta pinta-primeira do autor.” - trecho da orelha por Fabrício Fernandez

“Deixamos a arte agonizar até a morte, incapazes de qualquer coisa além de assistir condescendentes[…] E nós ficamos aqui, grunhindo, procurando o poema enquanto reviramos o lixo do passado a procura de uma rima qualquer ou um pedaço de métrica que nos sirva para refeição diária enquanto os dias não melhoram.” - trecho do ‘Prefácio sujo’ - Pág. 11/12

“[...] a boa bicha está sempre preparada.” - Pág. 27

Cada pedaço seu fica em cada conto.
Contos estes de cinismo, sensualidades, são verdadeiras sombras da modernidade.
Histórias de uma cidade cinza, de pessoas frias e sensações secas.

“Estou na rua hoje é para escrever. Escrever com meu corpo.” - Pág. 16

‘A boa bicha’ de Rodrigo é como um prisma que te faz viver ene sentimentos em uma única sentada; é aquela olhadela pelo buraco úmido da fechadura.

“Abro os olhos e vejo minha vítima ali. Estuprado. Ele chora de forma tão sentida. Eu o violei isso me excita muito. Seu pênis está caído e flácido, ou seja, gozei roçando minha vagina sobre seu órgão desexcitado.” - Pág. 66

É também um livro bem trabalhado, aliás reúne textos de mais de 10 anos, que abordam temas como o amor, a solidão, morte e o desejo. O autor rasga seus personagens, dissecando em seus contos, e nos mostra as delícias e os dissabores que o tornam humanos.

“Os seres desumanizados trajam preto ou branco, rendendo à paisagem mais tons de cinza e menos vida nos guetos e nos retos prédios, que cortam o céu em tiras. A única forma curva, o sol, é engolida aos poucos pelos arranha-céus, e o espaço de aço e concreto é tomado pelas sombras.” - Pág. 97

A nudez de suas palavras é o que torna um livro único, gostoso de dedilhar.
A boa bicha’ não teme mãos e olhos experientes, mas é também um deleite aos toques trêmulos.
Pegue, folheie, goze ao som dos contos, eu recomendo.

Vai sem medo,

e boa leitura!


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