Como a literatura entrou em sua vida?
H: Entrou pela escola pública quando, aos 13 anos, ganhei um concurso de frases promovido pela biblioteca. Ali algo foi plantado para que, vagarosamente, florescesse anos depois.
Qual foi o papel da leitura para a construção do seu eu autor?
H: Fundamental. A procura por livros, especialmente durante a adolescência, foi uma forma de saber que a realidade poderia ser expandida durante a leitura para que, posteriormente, pudesse ser recriada quando me tornei escritor.
Consegue viver de literatura?
H: Vivo da literatura, ainda que não sobreviva dela diretamente. Aliás, apenas uma pequena parcela de autores paga as contas com direito autoral no Brasil. Meu emprego que paga o feijão com arroz é como gestor cultural, de modo que não é de todo ruim para a nossa realidade.
Qual a maior dificuldade que encontra para chegar ao público leitor?
H: A inexistência de uma política de leitura e mediação cultural para a área no Brasil. Mas poderia citar certo amadorismo de toda a cadeia produtiva do livro e da leitura.
Quais são suas referências literárias?
H: Millôr Fernandes, basicamente.
Lida bem com as críticas?
H: Um grande mestre da área me disse quando lancei meu primeiro livro: não se assoberbe com críticas positivas, tampouco se abata pelas negativas. Depois de 21 livros, constato que é do jogo.
Está trabalhando em algum livro no momento?
H: Sempre estou. Agora mesmo num romance e uns infantis.
O que seria de sua vida sem as letras?
H: Provavelmente infeliz.
Dê uma (ou mais) dica(s) para quem quer ser escritor:
H: Leia bastante, estude, pesquise, faça oficinas para entender que não está sozinho/a nessa empreitada. E o principal: deixe as coisas acontecerem. Levei 17 anos entre dizer que queria ser escritor e finalmente publicar o primeiro livro, tempo que foi importante para amadurecimento. A literatura tem outro tempo que não esse corrido em que vivemos.
Henrique Rodrigues nasceu no subúrbio do Rio de Janeiro/RJ, em 1975. Publicou 20 livros, entre poesia, crônica, romance, infantil e juvenil, tendo sido finalista do Prêmio Jabuti por Rua do Escritor: crônicas sobre leitura (Malê). Seu romance O próximo da fila (Record) foi adotado em escolas de todo o país e publicado na França. Já palestrou em espaços culturais no Reino Unido, França, Portugal, Espanha e Bélgica, onde coordenou a residência artística Cine Luso, em 2019.
É colunista do portal PublishNews, onde escreve sobre a vida literária. www.henriquerodrigues.net
Crédito: Silvia Alcântara