Limbo (Editora Peabiru, 2022)
“[...] el Caribe es el Limbo.” - trecho do Prefácio por Samuel Whelpley
Me senti em um filme de terror do King, neste início de capítulo, onde vemos uma referência, e que futuramente descobrimos ser uma fresta da identidade do romance gótico de John.
Um dos pontos que me marcaram na leitura foi a crueldade de uma religião pautada na crença universal, onde o aprisionamento humano num cabresto o guia cegamente e amedrontado para fins inesperados.
“Elas lhe falaram sobre o Céu, que resumiriam como um plácido lugar de alegria. Quanto ao inferno, não economizaram detalhes mórbidos e assustadores para uma criança[…]” - Pág. 31
Outra cena forte do livro mostra a maldade do homem diante de um abuso, a necessidade de domar algo, tomar pra si, ou até um desejo velado que teima em se mostrar em forma de violência.
Um povo parado no tempo, cercado por suas crenças exportadas, totalmente fechados pelo que é do chamado ‘mundo novo’ ou da modernidade como conhecemos hoje.
“Ao contrário do resto dos habitantes, Kassandra esteve ausente por longas temporadas de Crisântemo. Sempre voltava com roupas extravagantes, cabelo pintado, trazendo livros, música, perfumes e revistas.” - Pág. 38
Seus capítulos são curtos - o livro é dividido em três partes - e as histórias se ligam de maneira orgânica, ‘limbo’ é um livro de rápida absorção, uma leitura muito fluida.
A violência como o traço do machismo e racismo, em uma cena mostrando uma questão de posse do corpo da mulher, uma marca triste na literatura latino-americana: vestígios da colonização e que ainda perpassam os tempos atuais.
“Quem pode dizer que as casas que nos abrigaram, crianças e adultos, bem como nossos antecessores, não retêm em suas paredes a marca do passado; da alegria e do sofrimento?” - Pág. 103
No limbo é onde personagens excêntricos se encontram, cada um com suas misteriosas histórias, mas que em algum momento também se cruzam. Seus personagens são complexos, cheios de camadas. É um livro redondinho, onde eles se entrelaçam, criando uma linearidade em meio ao caos.
‘Limbo’ de John Templanza Better me deixou meio confuso no início, mas, no decorrer do livro foi me surpreendendo com as diversas nuances entre o terror-horror de suas páginas, ele nos entrega pequenas doses da estória até o desfecho final.
“Tudo é possível ou nada o é, em um lugar como este.” - Pág. 118
Não é um autor que entrega o texto logo de cara. Ele te faz ir mergulhando aos poucos numa areia movediça pegajosa, sombria e fedorenta.
Uma outra coisa importante a ser falada sobre a história é: ela tem um tempo louco. Há no livro algumas mudanças do tempo-espaço; em alguns casos ocorre um salto, há também descrições em forma de delírio e ainda lembranças das personagens que se entrelaçam.
“Sou uma criança no corpo castigado de uma árvore em que amantes escrevem seus nomes com facas. Não vivo em um lugar errado, mas estou preso ao desejo.” - Pág. 120
O Limbo é complexo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário