Há quanto tempo eu não lia um clássico, leitora (essa forma de tratamento marcou este autor pra mim)
O escolhido da vez foi ‘Dom casmurro’, obra-prima de Machado de Assis, que eu li em um clube de leitura: o Quintal de Rosalina.
“Casmurro… lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando!” - Pág. 06
Se você espera um livro com traições e reviravoltas e afins não é de Dom Casmurro que você precisa, aquela famosa frase: “… Você já reparou nos olhos dela? São assim de cigana oblíqua e dissimulada.“ é apenas uma pequena fração do romance.
Essa especulação em torno das personagens Capitu e Bentinho é só mais uma mostra da genialidade do autor, o restante é o quão grande a obra se tornou e como Machado foi inteligente de deixar espaço para que o leitor imaginasse e dialogasse com o próprio livro.
“… vou deitar ao papel as reminiscências que me vierem vindo.” - Pág. 10
Dom casmurro é um romance de folhetim, publicado antigamente em jornais e periódicos da época, diariamente e com um texto bem memorialístico.
Dentre os temas abordados no livro de Machado temos o principal deles, por qual é desenvolvida a narrativa; a descoberta do primeiro amor, o jogo da conquista, além do ciúme possessivo da personagem principal.
“Êsse primeiro palpitar da seiva, essa revelação da consciência a si própria, nunca mais me esqueceu, nem achei que lhe fôsse comparável qualquer outra sensação da mesma espécie. Naturalmente por ser minha. Naturalmente também por ser a primeira.” - Págs. 41/42
O escritor também encaixa várias críticas pontuais durante o livro o que torna um texto mais rico: ele fala da grafia da época, sobre etarismo, machismo, patriarcado e capitalismo, temas ainda hoje abordados e que perpassam a cultura e a literatura brasileira.
“Os sonhos antigos foram aposentados, e os modernos moram no cérebro da pessoa. Êstes, ainda que quisessem imitar os outros, não poderiam fazê-lo; a ilha dos sonhos, com a dos amôres, como tôdas as ilhas de todos os mares, são agora objeto da ambição e da rivalidade da Europa e dos Estados Unidos.” - Pág. 217
Uma das coisas que tem me roubado a atenção, e que eu presto nos livros que eu leio, é o dever da religião na sociedade.
Machado de Assis nesta obra nos aponta que as personagens tem um medo do pecado, do castigo divino. O que me faz refletir sobre o dever do ‘sagrado’ na condição do ser, e que ele nos mostra através de Dom Casmurro; seus deveres e suas penas.
“São Pedro, que tem as chaves do céu, abriu-nos as portas dêle, fêz-nos entrar, e depois… recitou alguns versículos da sua primeira epístola: “As mulheres sejam sujeitas a seus maridos… Do mesmo modo, vós, maridos… tratando-as com honra, como vasos mais fracos…” - Págs- 322/323
A cena que mais me marcou, a mais pesada, é a mostra da escravização da época: “… Só então reparei nisso; apontei ainda outros escravos, alguns com os mesmos nomes, distinguindo-se por um apelido, ou da pessoa, como João Fulo, Maria Gorda, ou de nação como Pedro Benguela, Antônio Moçambique… alguns andam ganhando na rua, outros estão alugados.” - Pág. 297
Eu poderia falar de desse livro por mais algumas linhas e páginas, mas acho que por aqui ta bom, agora quero saber de você: já leu alguma coisa de Machado de Assis? E Dom Casmurro, o que achou do livro?
Espero que você tenha gostado,
Até a próxima!
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