"a-maior-função-do-homem-no-mundo-é-transformar-se-em--literatura" - Reinaldo Santos Neves

sábado, 10 de junho de 2023

Traiu ou não traiu? (RESENHA)

 




Há quanto tempo eu não lia um clássico, leitora (essa forma de tratamento marcou este autor pra mim)

O escolhido da vez foi ‘Dom casmurro’, obra-prima de Machado de Assis, que eu li em um clube de leitura: o Quintal de Rosalina.

“Casmurro… lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando!” - Pág. 06

Se você espera um livro com traições e reviravoltas e afins não é de Dom Casmurro que você precisa, aquela famosa frase: “… Você já reparou nos olhos dela? São assim de cigana oblíqua e dissimulada.“ é apenas uma pequena fração do romance.

Essa especulação em torno das personagens Capitu e Bentinho é só mais uma mostra da genialidade do autor, o restante é o quão grande a obra se tornou e como Machado foi inteligente de deixar espaço para que o leitor imaginasse e dialogasse com o próprio livro.

“… vou deitar ao papel as reminiscências que me vierem vindo.” - Pág. 10

Dom casmurro é um romance de folhetim, publicado antigamente em jornais e periódicos da época, diariamente e com um texto bem memorialístico.

Dentre os temas abordados no livro de Machado temos o principal deles, por qual é desenvolvida a narrativa; a descoberta do primeiro amor, o jogo da conquista, além do ciúme possessivo da personagem principal.

“Êsse primeiro palpitar da seiva, essa revelação da consciência a si própria, nunca mais me esqueceu, nem achei que lhe fôsse comparável qualquer outra sensação da mesma espécie. Naturalmente por ser minha. Naturalmente também por ser a primeira.” - Págs. 41/42

O escritor também encaixa várias críticas pontuais durante o livro o que torna um texto mais rico: ele fala da grafia da época, sobre etarismo, machismo, patriarcado e capitalismo, temas ainda hoje abordados e que perpassam a cultura e a literatura brasileira.

“Os sonhos antigos foram aposentados, e os modernos moram no cérebro da pessoa. Êstes, ainda que quisessem imitar os outros, não poderiam fazê-lo; a ilha dos sonhos, com a dos amôres, como tôdas as ilhas de todos os mares, são agora objeto da ambição e da rivalidade da Europa e dos Estados Unidos.” - Pág. 217

Uma das coisas que tem me roubado a atenção, e que eu presto nos livros que eu leio, é o dever da religião na sociedade.

Machado de Assis nesta obra nos aponta que as personagens tem um medo do pecado, do castigo divino. O que me faz refletir sobre o dever do ‘sagrado’ na condição do ser, e que ele nos mostra através de Dom Casmurro; seus deveres e suas penas.

“São Pedro, que tem as chaves do céu, abriu-nos as portas dêle, fêz-nos entrar, e depois… recitou alguns versículos da sua primeira epístola: “As mulheres sejam sujeitas a seus maridos… Do mesmo modo, vós, maridos… tratando-as com honra, como vasos mais fracos…” - Págs- 322/323

A cena que mais me marcou, a mais pesada, é a mostra da escravização da época: “… Só então reparei nisso; apontei ainda outros escravos, alguns com os mesmos nomes, distinguindo-se por um apelido, ou da pessoa, como João Fulo, Maria Gorda, ou de nação como Pedro Benguela, Antônio Moçambique… alguns andam ganhando na rua, outros estão alugados.” - Pág. 297

Eu poderia falar de desse livro por mais algumas linhas e páginas, mas acho que por aqui ta bom, agora quero saber de você: já leu alguma coisa de Machado de Assis? E Dom Casmurro, o que achou do livro?




Espero que você tenha gostado,




Até a próxima!


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