Como a literatura entrou em sua vida?
Eglair: Fui autodidata em leitura e escrita a partir dos 04 anos de idade. Encontrei jogado na rua o livro Arca de Noé, de Vinícius de Moraes. Olhei para a história e simplesmente, passou a ter sentido para mim. Foi a descoberta do meu mundo de Nárnia. Aos oito anos comecei a escrever um jornal do bairro juntamente com o, hoje, jornalista, Alex Pandine. Criamos também um jornal cultural chamado “Corações e Mentes”. Desde então, não parei de escrever.
Qual foi o papel da leitura para a construção do seu eu autor?
Eglair: Fundamental. É minha fonte inesgotável de inspiração e ressignificação de quem eu sou. Meus textos são intertextuais. Gosto de conversar com os autores que leio e deixar que minha escrita seja impregnada por outras vozes.
Consegue viver de literatura?
Eglair: Sou professor de português e, ao longo da minha carreira, eu me especializei em literatura. Em minhas atividades de ensino, seja no uso da gramática ou na formação de professores, aproprio-me da arte literária. Nesse sentido, vivo financeiramente das letras. Como escritor, é complicada a sobrevivência financeira. Todavia, minha escrita abriu portas para conhecer outras culturas, pessoas de pensamentos diferentes. É um processo contínuo de aprender e desaprender. Nos tempos de pandemia, sobrevivi graças à literatura, principalmente para manter minha saúde mental.
Qual a maior dificuldade que encontra para chegar ao público leitor?
Eglair: Em primeiro lugar não há, de forma estrutural e estratégica, políticas de fomento à leitura e escrita. Em segundo, as desigualdades sociais históricas em nosso país, tornam o livro um bem de consumo caro. Por fim, acredito que as temáticas que escolho afastam-me de alguns leitores. Por exemplo, em “Diário de Minhas mortes” abordo o abuso sexual infantil. É um tema que a maioria não gostaria que fosse abordado, pois traz à luz o quanto o ser humano é cruel e a sociedade se esconde num véu de hipocrisia.
Quais são suas referências literárias?
Eglair: Muitas. Gosto de textos grotescos como “A metamorfose” de Kafka, da escrita filosófica e psicológica de Clarice Lispector, da simplicidade da música popular e dos textos contemporâneos, é claro. As minhas referências são determinadas pelo projeto literário que eu estiver escrevendo. Gosto de estudar, ler, reler, fazer novas descobertas para, depois, começar meu processo de escrita.
Lida bem com as críticas?
Eglair: Considero-as inevitáveis e preciosas. Nasci na miséria, gay e tímido, muito tímido. Fui forjado por várias formas de críticas desde criança. Sempre aprendo com elas. As positivas eu agradeço, as construtivas eu me apego a elas e as negativas do ponto de vista destrutivo, eu entrego ao Universo.
Está trabalhando em algum livro no momento?
Eglair: Terminei, há pouco, um livro infantil, cujo tema é “A Porta que nasceu torta na cidade só de retas” que aborda a importância de aceitarmos as diferenças e aprender a nos valorizarmos. No momento, estou escrevendo dois projetos “A Feia Acordada”, outa obra infantil que desta vez irá dialogar com as redes sociais e outro livro de Memórias chamado “A escola que me partiu” – nele falo de um ideal de escola que não existe mais, perdemos o encantamento. Agora, sinto o espaço escolar como um ringue de vaidades, violência, ambição e de desumanização.
O que seria de sua vida sem as letras?
Eglair: Não seria. Minha identidade como pessoa, sujeito e cidadão que me tornei foram construídos por elas, as palavras, as letras e os sons que preenchem o rio caudaloso de minha alma.
Dê uma (ou mais) dica(s) para quem quer ser escritor:
Eglair: Gostaria, primeiro, de quebrar um mito: quem lê bem escreve bem. Não é verdade. Escrever é outra competência, é uma entrega que exige a observação do mundo, a empatia pelas pessoas, uma busca inacabada de nos compreender. Nesse sentido a dica é: simplesmente escreva, reescreva e aprenda o que suas letras estão lhe dizendo.
Produtor cultural. Poeta. Dramaturgo. Cronista. Elaborador de projetos pedagógicos, culturais e de captação de recursos. Escritor de narrativas acerca de memórias afetivas e de diversidade. Membro do Coletivo Diversidade Literária e Co-fundador da Academia Capixaba de Letras da Diversidade. Produção artística: Fagulhas do Tempo - 1991 - esgotado), As loucuras de Leopoldo (Teatro- 1994 - esgotado) . Versos explícitos (poesia - 2003 - esgotado) Desencontros - Teatro 2004) - esgotado) A voz da Felicidade (Monólogo 2006 - esgotado). Diário de minhas mortes (Narrativa de memórias - 2022). A Porta Torta (narrativa infantil - 2023 - inédito). A Escola que me partiu (Crônicas - 2023 - inédito).
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