"Tem gente que pensa que comédia é apenas o personagem escorregar numa casca de banana, mas ela é uma ferramenta perfeita para tratar de assuntos delicados
Felipe: Eu sempre me encaixei naquela estatística de que brasileiro lê no máximo 2 livros do ano. Lia os livros paradidáticos da escola e outros que entravam no meu caminho por acaso. Só criei o hábito da leitura mesmo quando uma amiga no Ensino Médio passou a me emprestar livros de entretenimento. De lá para cá nunca mais parei de ler.
Qual foi o papel da leitura para a construção do seu eu autor(a)?
Felipe: Para mim, leitura e escrita andam juntas. Sou um autor mais autocrítico porque leio, sou um leitor mais fascinado porque escrevo. Livros me inspiram a escrever minhas próprias histórias.
Consegue viver de literatura?
Felipe: Quem dera! Brinco sempre que sou um autor-bebê, porque minha carreira tem apenas dois anos, então acho que ainda é cedo para chegar nesse patamar de viver de literatura. A repercussão de Gay de Família nesse primeiro ano me surpreendeu muito, mas sei que há um caminho longo pela frente até eu ter uma carreira consolidada. Atualmente, sou analista de sistemas, a escrita é minha carreira secundária.
Em uma entrevista que deu para UOL sobre seu livro ‘Gay de família’ (editora Paralela, 2022) você disse sobre Diego, um dos personagens principais do livro, que; “Os pais não o aceitam, o irmão não sabe lidar com ele, os sobrinhos mal sabem que o tio existe.” Infelizmente uma dura realidade na comunidade LGBTQIAPN+. Como aproveitar e criar partes cômicas e uma história cativante com um background desses?
"[...] foi essencial que Gay de Família encarasse esse tabu de que gays e crianças não podem conviver no mesmo ambiente
Qual a maior dificuldade que encontra para chegar ao público
leitor?
Felipe: Ainda
estou me entendendo com o marketing digital. A internet é um espaço excelente
para nos dar voz e fazer com que leitores nos encontrem, mas entender os
algoritmos é um trabalho à parte que autores precisam estudar se quiserem ter
sucesso nas redes sociais.
Quais são suas referências literárias?
Felipe: Gosto muito
do humor da Sophie Kinsella (série Becky Bloom) e do Vitor Martins (Quinze
dias, entre outros)
Há na sociedade alguns preconceitos envolvendo homens gays
no Brasil, como adoção de menores, casamento, além do novo conceito de família.
O que você propõe em seu livro é ampliar a visão das leitoras e leitores a
estes temas? Ou apenas buscou retratá-los como forma de representatividade?
Felipe: Representar
personagens de grupos minorizados já é ampliar a visão de quem lê. Não tem como
conhecermos o que nem sabemos que existe. Pra mim foi essencial que Gay de
Família encarasse esse tabu de que gays e crianças não podem conviver no mesmo
ambiente.
Lida bem com as críticas?
Felipe: Eu leio
praticamente TUDO que falam do meu livro, mas raramente interajo com resenhas.
Entendo que é um espaço dos leitores e quem leu meu livro tem o direito de
reagir como quiser a ele.
Como está sendo o retorno (feedback) das leituras?
Felipe: Muito
positivo! As avaliações e as resenhas são no geral muito gentis. Ouço muito dos
leitores que Gay de Família é o livro mais engraçado que eles leram na vida e
isso me dá o sentimento de missão cumprida. Sei que a maioria das pessoas não
tem o costume de ler comédias, então me deixa muito feliz ver tanta gente dando
uma chance para o meu livro.
Uma pergunta um pouco mais pessoal: como foi sua descoberta
enquanto homem gay, seus desafios e dulçores com a própria comunidade e como
esse caminho lhe ajudou na preparação do sucesso que está sendo ‘Gay de
família’?
Está trabalhando em algum livro novo no momento?
"[...] tenho muita vontade de escrever uma sequência para Gay de Família (os leitores me pedem muito!)
Fiquei sabendo que seu livro teve seus direitos adquiridos
para uma adaptação audiovisual, o que para um autor estreante é um ótimo
resultado, principalmente quando falamos do mercado editorial brasileiro. Como
estão as expectativas e o que podemos esperar do futuro de ‘Gay de família’?
Felipe: É
incrível porque eu NUNCA imaginei que isso fosse sequer uma possibilidade para
mim. Foi uma grande surpresa, e eu realmente não sei o que esperar, acho que
ainda não tive tempo de criar expectativas. Torço muito para que o filme leve o
melhor do livro para quem precisa. Sobre o futuro, tenho muita vontade de
escrever uma sequência para Gay de Família (os leitores me pedem muito!), mas é
algo que não depende só de mim para acontecer, então só o tempo dirá.
O que seria de sua vida sem as letras?
Felipe: Eu sempre
me vi como um contador de histórias. Antes de começar a escrever, eu desenhava
histórias em quadrinhos sem balões de fala. Então gosto de acreditar que eu
daria um jeito de encontrar um meio para continuar criando personagens,
conflitos e enredos.
Dê uma (ou mais) dica(s) para quem quer ser escritor:
Felipe: Leia
bastante. Pratique todos os dias que você puder, nem que seja apenas um
pouquinho. Escreva uma história que você gostaria de ler. Pare de enxergar outros
escritores como seus concorrentes, está todo mundo no mesmo barco se ajudando.
Crie contatos pelas redes sociais. Frequente os eventos literários da sua
cidade. Sua primeira história nunca será perfeita, mas pode ser o suficiente
para iniciar sua carreira.
Felipe Fagundes nasceu em
1991 e cresceu em Nova Iguaçu, cidade da Baixada do Rio de Janeiro. "Gay
de Família" é seu primeiro livro publicado, mas desde sempre escreve
histórias bem-humoradas que, na verdade, são dramas disfarçados. Seus temas
favoritos são família, amizades complicadas e relacionamentos em geral. Gosta
de retratar personagens LGBT+ adultos, que já saíram da escola e agora precisam
ganhar o mundo. Atualmente, mora no Rio de Janeiro com seu marido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário