“Não se associe com gente à toa. Levanta dessa mesa, Virgínia, isso não é enredo pra você.” – Pág. 92
Virgínia é um galho longe da árvore, distanciada por Henrí, um tóxico amor – se é que podemos chamar de amor – que a faz secar lhe tirando o pulsar de suas veias-caule que a ligava à sua família e amigas.
“Minha mãe vive falando que temos de enfeitar o corredor da memória para lembrar que somos livres, senhoras e senhores dos nossos oris, com a permissão dos nossos orixás.” – Pág. 16
‘Virgínia Mordida’ de Jeovanna Vieira tem uma narrativa leve mesmo com uma história marcada por violências, é um dos livros que mais me tirou do chão este ano. Fui passando as páginas, levado por capítulos curtos, de uma forma tão fluida que nem percebi o fim se aproximando.
“Meço a extensão dos sorrisos ou o volume das gargalhadas que poderiam disparar combate. O que me faria gargalhar, senão ele? Me calar acabou sendo a estratégia mais eficaz na tentativa de seguir caminhando com Henrí, circundando esse abismo.
Todo dia eu sigo aguentando um pouco mais.” – Pág. 144
O livro é permeado de representatividade; com referências afro-brasileiras, menções aos orixás e a religião, a diáspora, fala muito sobre memória e ancestralidade. O feminismo aqui representado em mulheres se apoiando além do sangue, irmãs por Benedita, enfrentando o patriarcado em forma do ‘amor’ idealizado, mas não só.
Foi cedendo cada dia mais que a personagem principal vai se descolando de suas raízes e da árvore que te protegia, te dava a firmeza que todo corpo precisa para viver.
“[...]amar é menos se encontrar com o outro e mais não se perder de si.” – Pág. 146
O “romance galopante, sem rodeios. Nu, cru” que fala Andréa Del Fuego traz as memórias da dor, sons de um corpo se despedaçando. Corpo-galho esse rasgado por xingamentos, pressão à maternidade, controles, um corpo podado por todos os lados. É assim que caminha a história de Virgínia seguindo a rota de outros corpos-galhos, infelizmente.
Mas neste romance o fim é um pouco diferente, para encerrar digo apenas mais uma coisa:
Leia Jeovanna.
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