O livro é dividido em três partes sendo que na primeira - ‘Nas águas da memória’ - o enfoque é na infância, o perceber-se ‘viva’ num tempo simples que é descrito como “intervalo entre um começo e um fim.” (Pág. 21)
O encantamento à literatura e a descoberta da magia das palavras se repete livro adentro assim como o descolamento da vida real diante da ficção. O início da escrita, Bernadete - e o nascimento - da escrevinhadora.
“Vocês sabem: quando uma criatura chega ao ponto de conversar com as memórias é como se estivesse conversando com a eternidade.” - Pág. 41
Na segunda parte do livro - ‘Coisas deleitosas da Barra’ -, a escritora nos descreve as paisagens de sua querida Barra, lugar de encanto, das memórias sólidas, o plano de fundo mágico da autora. A primeira percepção da ‘morte’ assim como a cadência das memórias da meninice que compõe este ‘Água salobra’.
Em ambas as partes, sob a benção de Cronos - o grande guardador do tempo e das lembranças por ele produzidas - Bernadete costura sua paixão; à literatura. Da qual fala com amor, uma sensação sublime. Do que é levado pelas marés do esquecimento e também o que é trazido pela brisa da rememoração.
“Repartir pequenas maravilhas que se fazem voláteis e desaparecem, como se tudo fosse uma marca d’água na doçura do papel de seda que a memória suspende contra a luz crua da lâmpada da vida.” - Pág. 52
Retratos de um tempo diferente, que reconforta o coração como o fogão a lenha que aquece o canecão de café - que vai acompanhar o bolinho de chuva -, a luz da lamparina. Nostalgia que só as croniquetes são capazes de nos transportar.
As crônicas, quase descambam em uma autobiografia, de uma eterna menina que resplandece ao escrever sobre sua ‘terrinha’.
“Cultivo esse meu gosto de dobrar o tapete do tempo e depois desdobrá-lo sem muitos cuidados para que os visitantes tropecem em uma lembrança escolhida ao acaso.” - Pág. 66
Já na terceira e última parte do livro - ‘Reflexos de outros verões’ - as crônicas relatam as mudanças que ocorreram em Conceição da Barra, as transformações que ocorrem com as pessoas e lugares, além de alguns encerramentos de ciclos.
Temas como mudanças climáticas, fúria da natureza, algumas breves críticas políticas aos governantes da cidade, e de novo com a literatura ainda permeando seus textos, quase dissecada pela autora; ela que é tema constante.
“Durmo e sonho. É dessa maneira que eu posso sossegar o desassossego. Quando sonho com tantos dourados verões que passei em Conceição da Barra, a minha flor de areia. Na verdade, é lá que está agarrado, para sempre, o meu coração.” - Pág. 90
Bernadete é o cais que recebe suas crônicas - este o mar - e nós leitores, ao acessar essa riqueza de ‘salobras águas’, transbordamos.
Ah, que presente de Ano Novo maravilhoso!!!Obrigada, do fundo de meu cansado coração, querido Henrique Pariz!
ResponderExcluirMinha linda, eu que agradeço pela leitura, um beijo!
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