Já na dedicatória do livro a autora já nos mostra o que se seguirá, dedicando aquelas páginas aos seus avós, indicando uma cartografia sanguínea da Ediphôn.
“Encontra, os olhos brilham de amor tanto quanto de temor
Agora é hora de experimentar seu primeiro vestido[…]
Era o que sempre havia procurado
Um tecido teceu abertura de caminhos pra’quele corpo” - Pág. 31
Em um dos primeiros textos ela questiona a obrigação do discurso político de seu corpo pela sociedade, sem espaço para arte, poesia, amor. Apenas a defesa de um corpo dissidente.
“Eu sou a elu, o ela, a elo que mantém tudo isso que vê na performance viva de alguém despida.” - Pág. 11
Temos nessa obra de textos rápidos e pungentes o desejo a importância de saber deixar algumas coisas irem e (re)aprender a ficar consigo, uma necessidade de descoberta do Eu e, consequentemente, a expô-lo ao Outro de forma poética e livre.
“… lá onde fui salva da dor que escapole pelas minhas ventosas eu fui muito mais eu e pude ser feliz.” - Pág. 17
Há questionamentos nos versos de Ediphôn e, em seu Escorpião sobra espaço à possibilidades, o que me fez mergulhar sem medo em seus textos e a gostar ainda mais da autora.
Lendo-a me reconectei com a literatura e, vale essa vírgula aqui, me voltei pra dentro, onde nos afastamos diariamente.
“De roupa
Quero
Mergulhar
Em
Você” - Pág. 19
‘Escorpião direto na língua’ é quase um livro de viagens, rotas indo da baía de Vitória até o Rio de Janeiro e passando por São Paulo até enfim ancorar na Bahia de todos os Santos.
Breves percursos da vida da autora em poemas, crônicas e prosas poéticas curtas, com seus textos autobiográficos que são uma delícia de ler.
“O condeno por ter feito a pele experimentar o amor
E depois rasgá-la todinha no asfalto” - Pág. 23
Ediphôn nos dosa com seus venenos em tons homeopáticos, falando de suas dores, seus medos, suas vulnerabilidades. A autora se permite também ao compartilhamento de suas urgências; de amores, viagens, desejos. Tudo o que nos torna humanos.
Impossível sair ileso e não se conectar com essa leitura.
“[…] hoje sonhei com o nosso carinho no entrelaçar de nossas peles, mas assumir jamais!
[…] Tenho pavor a dor e você tem o potencial de me causar a dor de uma picada de escorpião direto na língua.” - Pág. 42
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