Os textos de Sarah arranham meu ‘eu leitor’, eles são capazes de esmiuçar a própria camada da palavras.
No início do livro temos como abertura um trecho de Clarice Lispector o que se reflete em seus contos, onde a autora trabalha muito bem com sua matéria-prima: a própria palavra.
“Precisava escrever e chorar, e amar, e matar (...) A palavra plastificada, de difícil acesso, pela qual o leitor não pacienta o desembrulhar da obra” - Pág 75
Sarah é incrível. Percebo no primeiro texto, curto, de uma só página, onde a literatura torna-se personagem principal.
Mostrou também que é uma observadora dos cotidianos comuns, mas seus escritos transpassam o real. Ela, como as grandes autoras que a antecede, converte a realidade, o monótono, preenchendo o vazio do dia a dia.
“Acostumou-se com as trágicas portas porque a superação também era mais intensa. E viver naquele mundo era bom. Ninguém mais conseguia sentir o cheiro podre, embora ele nunca estivesse sumido.
Quando perceberam que o cheiro fétido vinha de alguns habitantes, trataram rapidamente de criar a primeira penitenciária do mundo novo.” - Pág 29
Vervloet debulha os mais variados acontecimentos e lhes dá os mais ‘estranhos’ caminhos. Não esperem um livro comum.
Com contos rápidos e - nem sempre - fácil de ler a escritora nos faz mergulhar em seu mundo duma maneira nada superficial.
Senti que, na maioria dos contos, é usado a técnica do micro-conto (estilo que Sarah já está acostumada a trabalhar) - mesmo que o formato pareça de um conto clássico, alguns com até 3 páginas - onde ela te joga na história sem paraquedas entre as palavras de ‘a superfície do mundo’.
“As pessoas são muitas, escassas, porque ninguém está ali para estar. O metrô é a pressa. O que eu faço é colocar a pressa em câmera lenta.” - Pág 102
Uma dica para essa leitura: mergulhe, sem cautela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário