A língua seca de Baleia nos ensina que o caminho que se segue será de total falta: de comida, água, de sandálias, de perspectiva, de vida.
🍂 “Iam-se amodorrando e foram despertados por Baleia, que trazia nos dentes um preá(...)
Aquilo era caça bem mesquinha, mas adiaria a morte do grupo. E Fabiano queria viver.” - Pág 14
Acompanhamos uma família que se contenta com pouco. Devo acrescentar que quantidade é bastante relativo se tratando de Fabiano e sua prole.
🍂 “Os troços minguados ajuntavam-se no chão: a espingarda de pederneira, o aió, a cuia de água e o baú de folha pintada. A fogueira estalava. O preá chiava em cima das brasas(...)
Baleia agitava o rabo, olhando as brasas. E como não podia ocupar-se daquelas coisas, esperava com paciência a hora de mastigar os ossos.” - Pág 16
Esse clássico só me reforçou de nossos privilégios: uma casa, refeições diárias, água potável, etcetera. Me fez ver que as desigualdades que habitavam o sertão de 1958 ainda hoje reflete nas ‘classes’ sociais brasileiras.
🍂 “Tudo ali era estável, seguro. O sono de Fabiano, o fogo que estalava, o toque dos chocalhos, até o zumbido das moscas, façam-lhe sensação de firmeza e repouso.” - Pág 44
Fabiano e sua família sempre de bocas abertas, arqueados, à espera de algo, bebendo e comendo ventos muita das vezes. A única coisa que tinham medo era da seca: reflexo da miséria que acompanhavam-lhes.
🍂 “(...)acharia um lugar menos seco para enterrar-se.” - Pág 118
Os personagens vivem uma utopia do início ao fim do livro, quase um loop. No romance de Graciliano fica claro também o abuso de poder das autoridades locais: a polícia (tratada por ele como os ‘soldados amarelos’), além dos políticos, o juiz, promotor e delegado.
🍂 “Era um desgraçado, era como um cachorro, só recebia ossos. Por que seria que os homens ricos ainda lhe tomavam uma parte dos ossos? Fazia até nojo pessoas importantes se ocuparem com semelhantes porcarias.” - Pág 97
📔 Uma dica para esta leitura: tenham em mãos um dicionário, pois a história é permeada de vocábulos regionais, o qual não ouvimos comumente por ai.
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