"a-maior-função-do-homem-no-mundo-é-transformar-se-em--literatura" - Reinaldo Santos Neves

segunda-feira, 28 de março de 2022

‘Uma tinta que vem dum lugar nada mágico, mas um tanto magoado’ por Henrique Pariz (RESENHA)





“Vi as flores roxas. A cor da agrura que está nos corações do brasileiros famintos.” (Pág 141)

É muito difícil resenhar Carolina. A fome é realmente amarela, ela mancha a boca e a barriga e as letras da escritora.
Carolina tem em sua escrita uma poética tristemente colorida.
Seguem trechos de seu diário, muitas vezes indigestos : escritos a maioria das vezes de dentro do que ela chamava ser seu ‘Quarto de despejo’.

“Continua chovendo. E eu só tenho feijão e sal.” (Pág 30)

Há exatos sessenta anos era lançado um diário que conta a realidade escancarada de um povo que sofre, escrito com sangue e ódio, por uma simples transeunte do nosso tempo. Uma mulher sem nome e sem endereço registrado no mundo, mas que, anos depois fica mundialmente conhecida por descortinar uma sociedade inteira.

“Parece que eu vim no mundo predestinada a catar. Só não cato a felicidade.” (Pág 81)

Quando um ‘gringo’ quiser conhecer o Brasil de verdade diga a ele para desligar a TV e ler Carolina. Não terá nada de Carnaval, nem praia, muito menos ‘presidente do povo’. Mas há sim a verdadeira desigualdade de um brasileiro que vive no quarto de despejo.

“As dificuldades corta o afeto do povo pelos políticos.” (Pág 33)

Sim, as favelas sempre existiram e, segundo Carolina, é lá onde jogam os pobres e analfabetos. Lá moram os tipos apagados pelos governos, mas aqui, nestas páginas, estão cada vez mais coloridos.

“Eu cato papel, mas não gosto. Então eu penso: Faz de conta que eu estou sonhando.” (Pág 29)




Título: Quarto de Despejo - Diário de uma favelada
Autor: Carolina Maria de Jesus
Editora: Ática
Páginas: 199
Gênero: Romance

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