“[...]cultura demais mata o corpo da gente[...]” - Pág. 14
O livro é dividido em ‘o mofo’, ‘os morangos’ e ‘morangos mofados’, conto único. Com alguns textos corridos, outros apenas em diálogos, Caio me tirou da zona de conforto me levando à experiências incríveis.
“Os pêlos molhado se misturavam. Ele estendeu a mão aberta, passou no meu rosto, falou qualquer coisa. O quê, perguntei. Você é gostoso, disse ele. Não parecia bicha nem nada: só um corpo que por acaso era de homem gostando de outro corpo, o meu, que por acaso era de homem também.” - Pág. 46
Apesar do primeiro contato com Caio contista já me apaixonei, principalmente pelo conto ‘Aqueles dois’ onde ele mostra a relação entre amigos, quase amantes, de uma forma forma comum: com suas dores e arrepios, acima de tudo um retrato de uma sociedade machista e heteronormativa. Em meio a ficção o escritor trouxe com normalidade uma relação homoafetiva.
“E a cada dia ampliava-se na boca aquele gosto de morangos mofando, verde doentio guardado no fundo escuro de alguma gaveta.” - Pág. 138
Os contos são totalmente diferentes: enquanto o primeiro é todo diálogo, no segundo é escrito em apenas um parágrafo, o que nos mostra toda a versatilidade do autor.
“Cavidades-porosas-que-se-enchem-de-sangue-quando-excitadas.” - Pág. 81
Alguns, senão a maioria dos textos, me pareceu uma constante procura das personagens pelo sentido da vida e das coisas a sua volta. Contos estes que levam o leitor a profundas reflexões existenciais sobre si próprio.
“[...] meu caminho não cabe nos trilhos de um bonde.” - Pág. 86
Com bastante referências da cultura pop/cult das décadas de 70/80 Caio cria ambientes sensoriais à nós leitores nos levando de mãos dadas até a cabeça de seus personagens.
“[...] até nossos beijos parecem beijos de quem nunca amou.” - Pág. 133
Seus textos são introspectivos, uma boa pedida aos fãs de Clarice, porém com a crueza da realidade social e política do autor.
“[...] observando os canteiros de cimento: será possível plantar morangos aqui?” - Pág. 145
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