"a-maior-função-do-homem-no-mundo-é-transformar-se-em--literatura" - Reinaldo Santos Neves

quinta-feira, 7 de abril de 2022

À sombra da lua, por Henrique Pariz


“[...] o que resta para acontecer é o silêncio.” - Pág. 25

É certo que este é um dos livros de contos mais estranho que li recentemente. É uma extensão do nosso mundo, a terra como conhecemos, vista por olhos num filtro soturno e mórbido. É um livro tão nublado quanto sua capa; não diz mais que o necessário.

“[...] eu não precisava ouvi-los para saber que conversavam como velhos amigos, ela e os fantasmas.” - Pág. 38

‘Os mortos estão no living’, de Miguel, com seus contos curtos, nos põe frente à cenários cinzentos sempre com a morte sobressaindo aos outros personagens, uma ‘coisa’ quase palpável, mas tão subjetiva quanto um transeunte figurante no mundo pós apocalíptico.

“Não há como falar o que se está vivendo, os verbos não cabem no momento.” - Pág. 69

Neste tempo de emoções instáveis e sentimentos líquidos, ‘os mortos’ reforçou o poder de viver, do estalo de consciência, imaginação, da crueldade humana. O livro traz reflexões sobre nossas crenças, filosofias, concepções e estereótipos. É um livro onde as humanidades pairam sobre o absurdo, o simples ato de viver, angústia de quase pós morte.

“E quem é aquele que vai em meu corpo, quase longe, desaparecendo na curva, lá na frente?” - Pág. 71

Em quase todos os contos uma outra personagem se sobressai: a lua. Em um ela assiste as atrocidades do homem, em outro ela coadjuva ao lado do céu cheio de estrelas à uma cena e ainda sangra com a chuva após outro corpo se atirar pela janela. Ela é como uma entidade que vigia e guarda os personagens e seus feitos.

“Deixei minha existência suspensa no cabide e, quando voltei a mim, encontrei a roída.” - Pág. 97

“[...] se os mortos estão no living, que todos os cadáveres tem um seu lugar a lua.” (Paulo Roberto Sodré, carta aos mortos, 1987)

No fim de ‘os mortos’ o que resta é sempre o silêncio…
 

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