⚠️GATILHO: LGBTfobia, TRANSfobia, racismo, miséria
Criou Deus o homem à sua imagem, a imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. - Gênesis 1:27
“[...] Bixa travesti de um peito só
O cabelo arrastando no chão
E, na mão, sangrando um coração [...]” - Linn da Quebrada
“[...] Da coberta aberta sobre a cama
Sobre um lido jornal, dorme um corpo
Dorme um corpo, desigual [...]” - As Baías
Dalton Levi (o Grandão), detetive e repórter policial, está de frente à mais um crime brutal. Um assassinato aparentemente nada comum, um não-corpo num rio alertou o perceptível homem que inicia sua caçada.
“ queria saber da vida de Ana Maria e seus detalhes peculiares. Aquela casa, o luxo, as joias, a conta bancária, a profissão de Ana Maria (...), a morte de Ana Maria!” - Pág. 22
O detetive se encanta com aquela ‘criatura’ desfalecida que outrora fora uma mulher desejada por todos os homens, mas que gostava da sua liberdade. Ana Maria atiçava a onça com vara curta, dançava na cara do perigo e gostava. Seus passos antes da morte acendiam o olhar rápido do aguçado detetive.
“Era por isso que ela tinha sempre um ar tão triste… Porque Deus fez <<ela>> errada. Porque não era o que gostaria de ser verdade.” - Pág. 52
Ele buscou seus antigos amantes, uma iirmã desamparada, uma catadora de papel e até pediu ajuda à outro reporter para solucionar tal crime. Mas nessa história nada é o que parece até que se prove o contrário.
É quando Grandão se envolve numa teia de boemia, boates e casas de swing, crimes de homofobia & amor passional na sociedade tradicional brasileira.
“Depois, nesta tarde, seu Antônio descobriu que sua doença era incurável. Incrível! Absurdo, mas amava Ana Maria, fosse ela o que fosse, homem ou mulher! Amava-a assim como <<ela>> era.” - Pág. 105
Uma mulher diferente é um livro forte, representativo e necessário visto que o Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo e, vale ressaltar que, a expectativa de vida é de 35 anos.
Ana Maria foi mais uma que a ficção mostrou, mas nessa história seu corpo serviu de reflexões que a autora soube muito bem representar seja em descrições, pensamentos ou diálogos muito bem construídos.
“Femininalise o sujeito, por favor, quando se dirigir e referir a mim, sou Ana Maria! Meu nome é esse! Sou uma espécie diferente de mulher, apenas isso!” - Pág. 173
Uma mulher diferente é um best-seller nacional desconhecido e raro não a toa; um livro diferente de tudo que já li. Um romance curto, instigante e curioso, sombrio e noturno, aliás pessoas como Ana Maria se divertem e vivem à noite.
“Que estranhas criaturas tinha o mundo.” - Pág. 190
Lembro também que Cassandra rios, autora assumidamente lésbica, foi escritora mais censuradas na ditadura, teve 36 dos seus 50 livros publicados censurados, tanto que teve de criar uma editora e publicar a maioria deles de forma independente.
Apesar das perseguições a autora se tornou a primeira escritora brasileira vender 1 milhão de exemplares, superando escritores como Jorge Amado, Clarice Lispector e Érico Veríssimo.
“[...] Eu, sentinela de um corpo assassinado, que não consegui guardar
Essa é a minha menina [...]” - Conceição Evaristo (trecho do poema que compõe a música ‘Corpo sem Juízo’ de Jup do Bairro)
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