Aquele dia na praia de Flávio Sarlo (Editora Leitura Fina, 2022)
“[…] a cidade se expandiu sobre os seus manguezais.” - Pág. 28
São algumas das descrições mais cruas e horríveis que li sobre estes períodos vividos no regime militar brasileiro.
É um relato da crueldade do ser humano, um registro lúcido de uma das fases mais difíceis que o país já viveu, a memória de toda uma geração.
“Na Praia do Canto do final dos anos 60, o futebol era jogado com pés descalços em ruas de paralelepípedo. O asfalto ainda não havia chegado. E o bairro tinha como característica o clima bucólico.” - Pág. 11
O livro é como uma grande reportagem, são fragmentos da ditadura, entre os anos de 60 e 70, mostrando as histórias dos guerrilheiros urbanos no Espírito Santo.
‘Aquele dia na praia’ parece uma crônica quebra cabeça: um documento literário sobre a construção de um povo e o crescimento da revolução, é um registro de luta do povo brasileiro.
“Enquanto a Seleção Brasileira conquistava Copa do Mundo, no México, em 70, prisões e torturas se tornaram mais frequentes. Jovens inconformados saiam de casa e nunca mais eram vistos.” - Pág. 12
O livro, em seus ‘pedaços’, mostra também uma transformação geográfica e arquitetônica do lugar, nesse caso a Praia do Canto.
É descrito nele também grandes nomes da época como Carmélia de Souza, Milson Henriques, Perly Cipriano, Fernando Achiamé. Figuras conhecidas da literatura produzida no Espírito Santo.
“Eu estava a uns quatro metros dele. E vi o Arildo se contorcendo no chão, ainda com vida, quando dois mateiros se aproximaram para ver quem eles tinham alvejado. Ao se certificarem quem era, cortaram a cabeça dele e colocaram num saco plástico que carregaram.” - Pág. 40
Conta um pouco da história através dos acontecimentos no Brasil, no estado e na Praia do Canto; é realmente um microcosmo em crônicas.
Flavio Sarlo descreve uma crônica muito visual do início ao fim do livro.
“Na Praia do Canto, é apenas mais uma tarde de verão. O calor e o sol forte forçam os transeuntes a andarem pelas sombras.” - Pág. 80
⚠️GATILHOS: tortura física psicológica, assassinato, homofobia, abuso infantil.
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