Como a literatura entrou em sua vida?
H: Minha mãe, não sei se ela lembra, tinha um caderno de poesia feito por ela e eu achava isso tão bonito. Tinham cartas de amor dos dois... Meus pais também sempre tiveram muitos livros em casa.Coleção de enciclopédias, livros infantis... Ficavam todos em um quarto no terraço que eu chamava de biblioteca. Adorava me esconder lá quando tinha problemas; entrar em mundos diferentes. E eu adorava aquelas séries de mistério da TV como além da imaginação; animes; filmes nos quais os personagens queriam ser escritores, igual em "meu primeiro amor". Nosssaa, adorava! Quando a atenção eu vi um além da imaginação que me prendeu a atenção eu resolvi fazer um fanfic dele, mesmo sem existir isso de fanfic, era, era 2001 eu acho. Meu pai me apoiou dando ideias de como imprimir, perguntando sobre; meus amigos... E isso me animava. Eu consegui terminar o livro, mesmo com muitos, inúmeros e tenebrosos erros. Poxa, eu tinha onze anos... Mas sempre fui muito intimidado por meus erros de português... Hoje eu não ligo pra isso mais, eu já aceitei que tenho um fluxo de escrita rápido e, quando entro nele, não tenho tempo pra pensar em regras gramaticais. Um exemplo: é muito comum eu trocar p por b, m e p, e por aí vai. Até na universidade, passei constrangimento por professores despreparados em lidar com isso. Mas enfim, eu nunca consegui editar esse primeiro fanfic, não tinha as ferramentas. Apaguei faz alguns anos. Mas ainda tenho os manuscritos.
Qual foi o papel da leitura para a construção do seu eu autor?
H: Foi importante demais. Eu adorava Érico Veríssimo, Clarice, Rubem Fonseca, lá nos meus 11-15 anos. Pra você ter uma ideia, eu usei o modelo de narração de Ana Terra para articular as narrações do fanfic já citado. Eu achava tão diferente da literatura infantil que eu tava acostumado e enjoado de ler. Quando eu comecei a ler esse tipo de literatura, eu achei um máximo queria copiar.
Bom, depois que desencantei do tal fanfic, eu comecei a entender que a música também tinha letra e eram poemas! Então comecei a, secretamente, escrever músicas, poemas...eu achava q escrevia, né?. E eu achava que era bom nisso já que na narração eu tinha me frustrado (socorro!). Eu não tinha as ferramentas gramaticais para escrever um romance. Mas na poesia eu achava que podia ser livre e errar o que eu quisesse sem ser julgado. Foi assim que a música teve mais influência, e eu copiava, principalmente, Legião Urgana, Radiohead, Nirvana, Cazuza... Depois que eu desenvolvi meu ritmo e escrita, compreendi que não podia fugir da narração. Que tudo que eu achava serem poemas, na verdade, eram contos, microcontos, narrativa poética. Mas isso eu só fui entender na universidade, com o curso de Letras.
Consegue viver de literatura?
H: Não... Teria de divulgar e viver a literatura como vocês. Fazer resenhas e crítica literária! Admito que eu gosto de fazer também. Infelizmente, não tenho tempo para esse sonho ainda.
Qual a maior dificuldade que encontra para chegar ao público leitor?
H: Que as pessoas vençam o medo do livro. Retirem o livro e o autor do pedestal que a falta de leitura e contato com os livros cria no senso comum.
Quais são suas referências literárias?
H: Eu me apaixonei pela literatura nacional depois de ler, escondido (porque eu tinha 11 anos e Ana Terra - que eu tinha roubado da "biblioteca" da minha irmã - não era indicado para minha idade), Ana terra. Então eu comprei um Escrava Isaura numa loja de 1,99 e, a leitura era tão complexa pra mim, que eu não conseguia nem sair da primeira página sem um dicionário. E eu não admitia isso! Risos... Mais tarde, quando eu já tinha desenvolvido minha leitura, eu fiquei intrigado com Feliz Ano Novo (que eu também li por conta da minha irmã), A Hora da Estrela, e finalmente, o famoso livro da barata, A Paixão Segundo GH. Gente, como assim uma barata era tema pra um livro? Eu amei. Matava aula na biblioteca para buscar mais livros como esse. Perturbava minha bibliotecária preferida. Eu queria fazer histórias daquele jeito: que irritavam os leitores, que incomodassem. Também tenho apreço por Guimarães Rosa, Machado, Caio Fernando, Lígia Fagundes. E, dos capixabas, eu gosto muito de Lyra e Grijó. Tenho duas contistas capixabas contemporâneas da minha geração que são exemplos para mim, mas melhor abafar.
Lida bem com as críticas?
H: Sim, a propósito, sou bancário também. Mando a real facilmente, quando necessário. Mas o desafio maior é lidar com a autocrítica.
Está trabalhando em algum livro no momento?
H: Escrevendo, não. Mas tô com dois livros novos. Planejei meu primeiro romance para 2020, "O ato do tio", e outro para 2021 "Um Futuro Em Cenataum, a fuga", mas, por conta da pandemia, os dois livros preferiram ser lançados juntos. Poderia esperar e lançar os dois separados. Guardar UFECAF durante um ano... Mas quem faria isso? A ansiedade de escritor não permite.
O que seria de sua vida sem as letras?
H: A leitura e a fábula me fizeram enfrentar muitos problemas na infância e adolescência. Eu teria enfrentado de outra forma talvez; se seriam tão saudáveis, não sei. Sou grato a literatura, aos meus pais e minha escola que sempre se esforçaram para que eu perdesse o medo dos livros.
Dê uma (ou mais) dica(s) para quem quer ser escritor:
H: Nunca deixe de mostrar sua literatura pra ninguém por vergonha ou romantismo. Não existe o próximo Machado de Assis nem o próximo livro perfeito. Eu escrevia um projeto de livro a mão com todos os erros de português que vc pode imaginar. Eu tinha problemas terríveis de erros que até hoje tenho. Não se puna ou se autocritique demais e não de bola pra todo mundo que ri de você. Editores e revisores existem, exatamente, para isso: ajudar a colocar o fluxo literário na linha. Eu tenho uma receita que não é minha, vem de outros escritores: faça um projeto de livro por ano, pense num projeto completo, um tema e beijos... Acho que é bom pra treinar. Os primeiros vão ser uma merda. Não publique enquanto não tiver orgulho e certeza do que fez. Uma hora você agrada o seu gosto, o de outra pessoa e do nada, você desenvolve sua forma própria de narrar, seu ritmo próprio. Se é que eu tenho. É meu conselho.
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