Para entender as histórias de Guimarães comece desentendendo tudo o que conhece sobre a língua e a linguagem da gramática brasileira: ele é um autor nada previsível quando falamos em língua portuguesa. E é esse um dos motivos que tornam a leitura difícil, além de seus contos serem muito densos e cheios de camadas.
“Só os montes se algodoam, além, do ruço da chuva [...] Se escuta também uma tosse de vaca.” - Pág. 90
Em ‘no urubuquaquá, no pinhém’, lançado pela @globaleditora, temos três novelas onde JGR aborda o tema caminhada. Seja ela física, espiritual ou amorosa. Ambas se passam no sertão do Brasil e permeiam a seca que assola a população local.
“Não-entender, não-entender, até se virar menino.” - Pág. 99
Temos em todas as novelas do livro também temas recorrentes em nosso presente como as diferenças de classe raça; a narrativa mostra o poder da riqueza de poucos em detrimento da pobreza de muitos.
É marca da obra o realismo mágico, traço forte da literatura latino-americana, em trechos tão poéticos que chegam levar seu leitor à lugares onde a realidade da vida não alcança.
“[...] eram dias desigualados, no riso rodante do mundo, da ponta das manhãs até ao subir extenso das noites, com milmilhar de estrelas do sertão.” - Pág. 134
Em meio as maravilhas que foi ler no urubuquaquá, principalmente na última novela, o autor escancara à sociedade o que o patriarcado e o machismo faz com as mulheres: a repressão do grupo causa nas personagens a sensação de criatura ‘menor’, tendo corpos objetificados e tratados como propriedade do homem.
Por esses motivos, tão cruéis e próximos, que João Guimarães Rosa é um clássico, tornando-se um dos maiores autores brasileiros; ele capturou a alma do homem ‘bruto’ e do sertão como ninguém.
“[...] coração não envelhece, só vai ficando estorvado… Como o ipê: volta a flor antes da folha…” - Pág. 169
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