"a-maior-função-do-homem-no-mundo-é-transformar-se-em--literatura" - Reinaldo Santos Neves

sexta-feira, 8 de abril de 2022

‘Um novo animal na floresta: a ironia em face da ditadura’ (RESENHA)

 


“O estado convertido ao terrorismo” - Pág. 107

O livro retrata de forma lúcida relações políticas e culturais no Brasil entre os anos 60/70, período em que o país era sobrevoado por uma sombra da ditadura militar pós golpe de 1964.

“[...] fizeram uma fogueira com tudo o que ali encontravam […] Saíram gritando “abaixo a Ditadura!”. Uma comerciária disse que eram jovens e bonitos, estavam alegres, pareciam participar de uma festa.” - Pág. 19

Munido de um narrador onisciente José Carlos Oliveira relata os acontecimentos, em sua maioria cenas com carga negativa, sem visão de um bom futuro, típica de um jornalista que viveu e narra parte tão emblemática da nossa história.

“Se posso fazer em minha casa o que bem entendo, conforme me asseguram o meu senso de privacidade e a própria Constituição da República (mas o AI-5 está aí, desmoralizando todos esses liberalismos)” - Pág. 33

O autor e sua obra são quase um só, pela forma como descreve a personagem principal e seus amigos, o cronista ‘Carlinhos Oliveira’, em sua autoficção luta, ao lado dos ‘guerrilheiros urbanos’ contra um sistema que tortura, censura, persegue e mata.

“[…] Não estou a favor de nenhum dos lados e provavelmente estou contra os dois. Sou, digamos assim, um rebelde confuso, perplexo, condenado à solidão por não ter aderido a um dos antagonismos em colisão. Enfim, sou boa-praça, um escritor inofensivo, um animal existencialista…” - Pág. 113

Apesar de não ser um documento histórico ‘um novo animal na floresta’ é uma rica fonte literária para escrever parte nebulosa da história do país.

“Nestes dias, entretanto, tudo é evidente e não é.” - Pág. 66

Ao lado de de Ignácio de Loyola Brandão, Carlos Heitor Cony, Fernando Gabeira, Antônio Callado, entre outros, Carlinhos Oliveira que veio dos meios de comunicações tiveram e tem um papel importante na contação de histórias tão contundentes e fortes feito esta. Eles contribuíram para que parte da nossa história não fosse mais uma vez censurada.

“É tempo de aflição e festa, entrelaçadas.” - J. C. O. (1981)

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