"a-maior-função-do-homem-no-mundo-é-transformar-se-em--literatura" - Reinaldo Santos Neves

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Entrevistando Contemporâneos & Independentes – Deane Monteiro Vieira

 




Como a literatura entrou em sua vida?

Deane: Aprendi a ler por volta dos meus 5 anos de idade, em virtude da alfabetização da minha irmã mais velha. Gostava de competir com ela por meio dos saberes alcançados. Jamais lhe deixei alcançar o nível mais elevado, sem que eu estivesse grudada nela. E, foi deste desejo, que lia sem parar, e que peguei o gosto por conhecer histórias arrebatadoras que mexiam com o meu coração, com a minha mente e com a minha alma.

Um dos primeiros livros que li em minha infância que sacudiu a minha existência, foi o “O meu pé de laranja lima” de José Mauro de Vasconcelos. Trata-se de um enredo muito profundo que destacava a amizade subjetiva e fantasiosa de um menino com uma árvore, que foi capaz de matar a solidão do menino e a minha, mesmo estando acompanhados em família.

Depois, parti para as obras de Monteiro Lobato e me encantei com a sagacidade de Emília, uma boneca falante. E, mais tarde, vieram os títulos da coleção Vaga-lume da Editora Ática e o preenchimento das folhas didáticas com as perguntas sobre cada livro, que passei a ter mania em respondê-las.

Vale ressaltar, que vi de uma família de camada popular - com pouco acesso a literatura no interior do meu lar, exceto a leitura da Bíblia feita por meu pai - e que nas escolas públicas que passei era inexistente o lugar que chamamos de biblioteca.

No entanto, motivada pelo meu desejo interno de leitura para aquisição dos saberes, que já comentei acima, sempre procurei meios para que pudesse ler os títulos que queria, como por exemplo, pedir emprestado aos meus amigos, aos meus professores ou mesmo, comprar com dinheiro que recebia das aulas particulares dadas na escola em que criei na garagem do meu pai, até os meus 15 anos.



Qual foi o papel da leitura para a construção do seu eu autor?

Deane: Foi na condução do entendimento da ambivalência e da contradição das vidas dos personagens que se igualava a minha vida interior. Descobri pela literatura que ninguém é uma coisa só. E, que inclusive o autor, perde o controle dos seus personagens quando os publica. De modo, que é na polifonia da leitura e da escrita que a humanidade pode testar o seu espírito democrático e livre.



Consegue viver de literatura?

Deane: Consigo viver da literatura, como já disse, porque ela funciona para mim, como um alimento para a minha alma, no entanto, economicamente, como sou uma escritora independente com o respectivo selo “Editora NarraTiana”, além da escrita diária, preciso divulgar e vender os meus títulos, que ainda só pagam os custos com a publicação. Nunca participei de nenhum incentivo ou fomento cultural porque a burocracia me adoece muito internamente. Como minha saúde mental não anda muito bem nos últimos anos, e caso você queira saber os motivos disso, indico o meu vídeo postado no Youtube de nome “Texto-testemunho de uma professora burnoutada”, que esclarece porque tenho poupado minha mente da grande gaiola invisível, que é burocracia e o controle estatal sobre os produtos culturais, que podem minar a criatividade dos artistas e escritores por conta do engessamento dos editais.



Quais são suas referências literárias?

Deane: Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade e Elena Ferrante.



Lida bem com as críticas?

Deane: Ainda não as recebi de modo formal.



Está trabalhando em algum livro no momento?

Deane: Sim. Com os meus mini romances e outros escritos paralelos.



O que seria de sua vida sem as letras?

Deane: Seria uma vida morta e sem respiro diante da exaustão do repetir da vida.



Dê uma (ou mais) dica(s) para quem quer ser escritor:

Deane:

E.S.C.R.E.V.A.

E.S.C.R.E.V.A.

E.S.C.R.E.V.A.

E.S.C.R.E.V.A.

E.S.C.R.E.V.A.

N.U.N.C.A

P.A.R.E

D.E.

E.S.C.R.E.V.E.R





Historiadora, professora doutora e poetisa social de si, que abusa da primeira pessoa do singular para construir as suas escritas terapêuticas que podem ser lidas no perfil @dor_arte_profa. Em seu canal NarraTiana no YouTube, pode ser encontrado o vídeo “Texto-testemunho de uma professora burnoutada” que tem ajudado as pessoas que experienciam o convívio com a Síndrome de Burnout e a depressão, em se posicionarem pela luta por políticas de reparação com a saúde mental dos trabalhadores.


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