"a-maior-função-do-homem-no-mundo-é-transformar-se-em--literatura" - Reinaldo Santos Neves

segunda-feira, 20 de junho de 2022

A Academia Espírito-santense de Letras (AEL) está recebendo textos para publicação




A Academia Espírito-santense de Letras (AEL) comunica que estará recebendo textos até o dia 1º de agosto de 2022 para as obras:

1 - Memória Capixaba, com a organização do acadêmico Fernando Achiamé.

Os textos devem mencionar alguma característica de um município em uma crônica ou um ensaio de até cinco mil caracteres. Eles serão recebidos até 1º de agosto de 2022 pelo e-mail escritosdoes@gmail.com.

2 - Escritos de Vitoria – com a organização de Adilson Vilaça, com o tema “Bairros de Vitória”.

Os escritores podem contribuir com uma crônica, ensaio ou poesia de até cinco mil caracteres. Os textos serão recebidos até 1º de agosto de 2022 pelo e-mail adilsonvilaca@hotmail.com.


Mais informações em : https://www.ael.org.br/editais/2022_edital_05_2022_publicacoes.html


sábado, 18 de junho de 2022

entreLINHAS com o escritor Hugo Estanislau



entreLINHAS recebe o escritor Hugo Estanislau para uma noite de bate-papo, autógrafos e afeto, vai perder?
Te esperamos aqui no Cheiro de Livro Sebo com esse projeto que visa valorizar o que é produzido aqui em nosso estado. Já anota para não perder:


Dia 29/06 às 19h30, na Thelema, Graciano Neves, 90 (entrada lateral), centro de Vitória.


Hugo Estanislau, 31, nasceu em Cariacica. É empregado público e escritor. Publicou o livro de contos "Boneca" pela Pedregulho em 2016, o romance "O ato do tio" em 2020, e o romance "Um futuro em Cenataum, a fuga" em 2021. Seus contos também foram premiados na coletânea do prêmio UFES de literatura. Mantém o site hugoestanislau.com.br, o instagram @uestanislau e o youtube hugoestanislau. Seu mais recente lançamento é o livro 'Receita de família' lançado pela editora Urutau em 2022.


Até onde a vida de escritor se entrecruza com a de suas personagens? Vamos descobrir em entreLINHAS.

Vem com a gente!

sexta-feira, 17 de junho de 2022

Vila Mathusa (RESENHA)

Vila Mathusa, Zênite Astra (Editora Incompleta, 2022)



“eu tenho pra mim que amor é um outro nome pra sobrevivência.” - Pág. 138

Ganhei da editora Incompleta a revista Puñado nº 07 e li despretensiosamente um conto da mesma autora, intitulado dinah dinamite, o que me fez apaixonar pela personagem e buscar logo o livro.

“é menos sobre descobrir quem se é e mais sobre inventar quem você quer ser.” - Pág. 27

Vila Mathusa é o primeiro livro de Zênite, mas adianto que ela é uma escritora já madura. O livro me surpreendeu já no primeiro conto, ‘aurora e rubi’; uma narrativa sensível e que muito me ensinou. Mostrou que somos crianças em constante aprendizado.

“homens, mulheres, todo mundo vinha ver as bichas se apresentarem. a gente se vestia, chiquérrimas, e ninguém entendia direito. era homem? era mulher? nenhum dos dois: a gente era um escândalo.” - Pág. 46

Amei a forma como Zênite dispôs as palavras - em sua maioria em letras de forma, nenhuma delas sobrepondo a outra -, parágrafos curtos o que deixou a leitura mais fluida e leve.

Gostei também da quebra dos padrões escritos, de como ela inicia cada nova frase, dos diálogos costurados nas cenas; uma forma de escrita de quem tem uma identidade forte e própria.

“travesti correndo é sempre sinal de problema.” - Pág. 66

O livro traz reflexões de certos - ou todos - movimentos, aqui o LGBTQIAP+, que tem em sua essência preconceitos nem tão velados assim, de que esses movimentos que deveriam ser de luta conjunta não abraçam a todes. É um daqueles livros questionadores.

“sinto muito, gata. essa reunião não é pra vocês. não tem uma festa pra vocês irem animar, não? o homem diz, sem esconder o desdém.”- Pág. 59

E no fim de cada conto há uma reticência, o sinal de que nem tudo termina no fim. O que fica é seu poder de leitor para criar a continuação de cada história.

“me recuso a gastar saliva com ouvidos viciados em ouvir tragédias. pois olho para nós e vejo luta e esperança.” - Pág. 83

Enquanto em um parágrafo Zênite desmistifica a ideologia de gênero em outro ela abre espaço para um diálogo a liberdade dos copos marginalizados, sempre de uma forma acessível, descomplicada.

‘Vila Mathusa’ é um livro sobre aceitação e descoberta, lutas e representatividade.

“travesti… quando se vão… nossa, parece que morre uma estrela. quando uma travesti morre, morre com ela um planeta inteiro. mas quando uma travesti vive, meu amor… aí é outra história.” - Pág. 141


 

terça-feira, 14 de junho de 2022

Entrevistando Contemporâneos & Independentes – Sara Lovatti




Qual foi o papel da leitura para a construção do seu eu autor?


S: Parece que eu descobri que era leitora quando me entendi como escritora. Sempre me envolvi pela fantasia, pela ficção. A sutileza cruel das morais nas fábulas sempre me entorpeceu e a coisa parece se construir concomitante a construção da nossa identidade. Passa de mero lazer, diversão. É difícil entender quando a leitura adentra e deixa de ser só curiosidade, mas exercita nosso olhar. Um exercício formador e de análise, que ultrapassa a borda da folha, a margem do livro, a escrita só pode acontecer se a leitura a preceder.



Consegue viver de literatura?

S: Não e é injusto de muitos modos, mas principalmente porque sem ela eu não viveria. É o próprio amor bandido essa coisa de literatura e o cenário, bom, é assustador. As pessoas não têm tempo de ler mais, elas mal têm como viver, comprar livro? Pra quê? Demorei a entender o espaço restrito da literatura e inserir-se nesse espaço, como leitora ou como escritora, é uma tarefa complexa. As pequenas editoras estão crescendo, mas as maiores (que ainda têm algo de pequenas) continuam publicando uma supremacia masculina branca que dá nó na minha cabeça. Então não, não consigo viver de literatura, mas gostaria. Viver de literatura é um objetivo, me mantém escrevendo e insistindo nessa ideia tola de por no verso do moço que foi lubrificar o ventilador ruidoso com óleo de cozinha e fez uma grande chuva dourada rançosa no quarto de um bebê dormindo ao amor não correspondido num ritmo indecente.



Qual a maior dificuldade que encontra para chegar ao público leitor?

S: Divulgação? Acolhimento em espaços literários? Confesso que sou acomodada com essa parte de me divulgar, penso, talvez arrogante, que um livro deve vender-se por si e que hoje as coisas se vendem de forma a perder em essência da coisa. Não quero ser tiktoker pra vender o que eu escrevo, ainda não...rs! O que quero dizer é que acho que minha dificuldade pode ser só caretice, mas de alguma forma, se lá em cima a acessibilidade ao meio literário acontecesse de forma mais abrangente, chegar ao público leitor não seria tão desafiador, seria menos se render a ordem tiktoker vigente. Não digo que perde a pureza do produto, mas talvez a natureza de seu propósito, esse chumbo trocado que nem sempre resvala. Fere fundo, quando chega ao leitor.



Quais são suas referências literárias?

S: Ana Cristina Cesar de cara. Hilda, Clarice, Pizarnik, Thénon, Adelia, Corbellari, Coradello, Carreiro, Tatagiba, Paixão, Oliveira.



Lida bem com as críticas?

S: Na vida ou na poesia? Risos de nervoso com a dupla ironia dessa resposta-pergunta, rs!



Está trabalhando em algum livro no momento?

S: Sim! Tô escrevendo prosa, esse trem demanda uma trabalhão danado!



O que seria de sua vida sem as letras?

S: É a pergunta-ironia-resposta da pergunta 6. Não sei se letras, poesia e vida se separam muito. Posso não registrar um relato real da minha vida, quando escrevo, mas não abro mão de uma constituição do olhar enquanto vivo. A gente trabalha com a sensibilidade pelas letras e não tem como isso não atravessar a vida. Então sem as letras, a literatura, eu seria outra.



Dê uma (ou mais) dica(s) para quem quer ser escritor:

S: Leia e perceba o mundo a sua volta! Escrever é exercício de mão, mas também de olho. Tem gente que se preocupar muito em descrever sentimentos genuinamente verdadeiros e que muitos compartilham, mas a coisa hostil, o desconforto (que é o que me atrai muito na literatura), isso requer tato manual e visual, talvez. Mas gosto de pensar na liberdade do criar. Isso me comove de alguma forma, porque se pra mim o desconforto é atrativo e se origina de construções das mais livres, pra outras pessoas a beleza refinada da métrica pode ser um impulso pra desbravar leitura e escrita. Por isso meu conselho é, escreva, e termine de escrever: publique!









Professora, escritora e mestranda da Pós-graduação em Letras da UFES, onde pesquisa a literatura contemporânea escrita por mulheres. Publicou Desconverso, seu primeiro livro de poemas em 2017. Recentemente lançou o Estilhaço, pela editora Pedregulho.


 


Foto histórica com as escritoras em Vitória

Cerca de 60 autoras participaram do momento clicado neste domingo (12), que teve como inspiração o movimento realizado em São Paulo, no estádio do Pacaembu



Como no evento paulistano - realizado no Estádio do Pacaembu -, o encontro aconteceu neste domingo (12). Por aqui, cerca de 60 mulheres, entre escritoras e pessoas atuantes na classe artística, se reuniram às 15h, na Escadaria Maria Ortiz, Centro da Capital.

O click para a posteridade foi feito pela fotógrafa Luara Monteiro. "Participaram pessoas de todas as idades e de várias vertentes literárias, como poesia, romance e do gênero infantil e infanto-juvenil. Também estiveram presentes representantes do grupo Elas Tramam (focado na produção dramatúrgica de mulheres lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis e pessoas 'transfeminines', não-binárias compreendidas no espectro da feminilidade) e do movimento de mulheres negras ligadas ao teatro", enumera Taiga Scarmussa (Organizadora do evento e representante do grupo Leia Mulheres Vix).

O manifesto teve o mesmo objetivo que o evento paulistano: destacar a força da produção literária feminina do país. "A ideia é mostrar que tem muitas mulheres produzindo, como também chamar a atenção para o fato de a Literatura Brasileira ainda possuir um perfil heteronormativo, pois é dominada por homens, brancos e heterossexuais", enfatiza a organizadora.

Além da foto em São Paulo e Vitória, iniciativas semelhantes aconteceram em mais de 20 cidades de todo o país, além de versões em Lisboa (Portugal) e Londres (Inglaterra).

O projeto foi inspirado em "Um Grande Dia no Harlem", de Art Kane, na qual 57 grandes jazzistas de 1958 se amontoam numa rua do bairro nova-iorquino, apossando-se até das escadas de uma casa para tirar uma foto. A ideia, claro, era ressaltar a força dos artistas negros, na tentativa, entre outras lutas, de diminuir o racismo na sociedade norte-americana.



Leiamos mais mulheres!






Fonte: https://www.agazeta.com.br/hz/cultura/escritoras-capixabas-posam-em-fotografia-historica-na-escadaria-maria-ortiz-0622

quinta-feira, 9 de junho de 2022

Movimento Escritoras de Vitória em uma foto histórica

 


Se você se identifica como mulher, escreve e tem ao menos uma publicação em seu nome — seja um livro lançado por editora, uma autopublicação, um catálogo de arte, um quadrinho, uma participação em coletânea ou um slam —, #afeiradolivro tem um convite especial para você!

No dia 12 de junho, vamos nos reunir para um registro histórico das mulheres do campo literário atual — inspirado por Um Grande Dia no Harlem, foto de 1958 em que Art Kane eternizou a era dourada do jazz.

O ponto de encontro será às 15h na escadaria Maria Ortiz, no centro histórico de Vitória (ES), para cadastro e organização de todas as participantes.

A participação é gratuita e voluntária e a fotografia deste evento poderá ser veiculada por meios de comunicação. Deste modo, quem se voluntariar a participar, automaticamente, estará concordando com a utilização da cessão de direito do uso de imagem.

@editorapedregulho
@editoracousa
@afeiradolivro

quarta-feira, 1 de junho de 2022

‘Através das lacunas’: Meu olhar ácido e lisérgico (RESENHA) #SêPoesia

 


“Nos poemas online, bem como nos poemas impressos deste Meu olhar ácido e lisérgico, transparece, mais do que nos Terceiros, sua dicção esquizofrênica. São poemas literalmente marginais, pois a doença (que o levaria ao suicídio) o pôs à margem da sociedade e, por conseguinte, à margem do convívio social e à margem do amor.

Aposentado na década de 80 por invalidez e incapacitado como ser social, o que sobrou de Tércio foi o ser poeta. A poesia se tornará então, para ele, mas que uma razão para viver, um meio de dar sentido e expressão à sua vida e à sua doença.” - trecho da orelha, por Reinaldo Santos Neves.

Versos inacabados, poemas (e)ternos. Sabe quando o ponto não expressa sua função e você, ao terminar a leitura do texto, fica com o sussurro silencioso apenas e nada mais? Pois foi exatamente assim que me senti depois de cada verso, de cada poema de Tércio.

Ele dialoga com a solidão e o silêncio, seus poemas me passaram um sentimento do interminável, mas também do banal. Do palpável. No humano. Algo dual que parte de seu olhar ácido ao lisérgico de suas palavras.

De dentro de todo este silêncio partem reflexões sobre o ser, o amor, a poesia. Quase sempre com um tom confessional, Tércio escreve pelas lacunas, mostrando o tudo e o nada ao mesmo tempo. Só nos basta enxergar através de seu olhar-poético.

Senti, na leitura deste livro póstumo, e de seus poemas órfãos, um lúgubre desejo de deixar ser, de estar.

Tércio Ribeiro se acumula em mim reticente: um poeta estrangeiro de alma, mas capixaba de corpo.

Entre um capítulo e outro há também alguns manuscritos do autor e desenhos que dão um charme à edição bem elaborada da editora.

Serei sempre grato a professora e amiga querida Inês S. Neves por ter me apresentado o poeta: obrigado!