"a-maior-função-do-homem-no-mundo-é-transformar-se-em--literatura" - Reinaldo Santos Neves

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Automutilação & úlceras de um coração sangrando: a poesia de Ingrid Carrafa (RESENHA)

 


“Fazer literatura é uma gozada solitária[...]” - Pág. 13


Entre o céu e o inferno há a poesia-gozo de Ingrid Carrafa, com seus versos crus e ensanguentados, apodrecendo num mundo caótico.


“Você nasceu com a marca das libertas.
E o seu castigo é a solidão de várias camas.” - Pág. 22


Seu livro é uma oferenda profana, com sua rima inumana, aos leitores e leitoras sedentas de saciar sua fome de uma poesia nua e crua.


“meu coração está sendo comido vivo pelas moscas varejeiras na parede[...]” - Pág. 24


A maioria de seus textos contam uma história, nem sempre alegre, alguns temas que permeiam poética de Ingrid são: a solidão, depressão, erotismo, morte, loucura.


“Ontem à noite abrir as portas do meu coração e encontrei
uma cidade fantasma[...]” - Pág. 38


Ela conta sobre corpos frios, secos da rotina, no mundo vazio de troca de sentimentos. Onde capitalismo manda os outros pré-conceitos comandam.


“Em mim, uma mulher está se afogando.
Percebo seu riso triste resignado
quando ela me olha e diz:
- O amor, Ingrid,
Tem uma graça sulfúrica.” - Pág. 61


Suas personagens principais: mulheres desabrigados de amor e homens acostumados aos privilégios de nascerem homens.


“Minhas vísceras estavam silenciosas
esperando o próximo copo de cerveja.” - Pág. 77


Em um poema sem título, um poema-manifesto, a autora dá aos ‘humanos’ uma nova opção que não o inferno e os rios de lava. Novamente uma afronta os puritanos e ao sagrado destino final de todos. No fim: a morte.


“A sina de carregar dentro do peito
a chaga de estar viva, porém inabitada.” - Pág. 87


Ingrid trabalha como ninguém tanto eu lírico masculino quanto feminino em suas prosas poéticas fortes, potentes e bem construídas.


“Passo pela Av. Lindenberg,
Estou voltando do trabalho.
Faz frio e está tarde.
Algumas prostitutas e travestis fazem ponto;
Hoje irão aquecer algumas solidões.” - Pág. 101


Amores vêm e vão, o que sobra na prosa poética de Carrafa é um pesado sentimento de ressaca, ainda resiste um coração cheirando a cana barata e cansado destas passagens dos que juraram ficar.


“[...]quer me foder vida?
Me beija antes!” - Pág. 115


Uma frase que reflete um pouco do que a escritora versa, sem floreios nem enfeites desnecessárias, simplesmente para informar que as coisas as vezes são como são. Isso me faz gostar cada vez mais da poesia de ‘E quando borboletas carnívoras dançam no estômago’.


“Às vezes as coisas são apenas o que parecem ser,
sem nada demais.” - Pág. 124


segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

‘Post It de carne & putrefação’ (RESENHA) #SêPoesia


Mais uma escritora de poesia do agora, com seus textos de urgência, em carne viva & osso raspado.

“A rua inteira é um rio de medo,
mas medo caudaloso e perene
se torna aço de cortar as mãos
do carrasco.” - Pág. 16

Coradello com seus poemas livres, com e sem título, algumas prosas poéticas, versa sobre o cotidiano: o amor, as revoltas, os sentimentos.

“Naufrágios que dançam tornam-se submarinos.” - Pág. 26

Uma mulher do seu tempo com as dores e o terror do século XXI. Uma feminista com versos potentes e necessários.

Seu corpo-poesia carimba duras críticas ao machismo, ao capitalismo e a sociedade moderna.

“É uma memória apodrecida o amor.” - Pág. 58

É um livro de rápida leitura, com poemas ora curtos ora longos, e um verso tão pesado que ocupa - em uma única linha - a folha toda, mas que me deliciei em apenas uma sentada à meia-noite antes de deitar para dormir.

Essa é, com certeza, uma ótima leitura de cabeceira.






📚💙 Eu e a Thay do @galeoteca nos juntamos para falar sobre poetas massa e suas obras riquíssimas ao longo de 2022. Os escolhidos desse último mês do ano foram 'Post its de carne & putrefação' de Mara Coradello e 'Azul instantâneo' do Pedro Vale


Bora Sê Poesia com a gente?!


A #SêPoesia é para mostrar poetas do Brasil, você tem alguma indicação? Diz aí.


Gostou de conhecer a Mara? Já conhecia? Me conta também.


✨ Depois daqui vai no IG da @galeoteca e confira a poeta indicada: você vai adorar!


 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Entrevistando Contemporâneos & Independentes – Luciano Máximo

 




Como a literatura entrou em sua vida?

L: Embora eu não tenha nascido em uma família de leitores assíduos, já nasci com um encantamento natural pelos livros. Quando encontrei, por acaso, um livro antigo, que minha mãe utilizou em sua época de escola, me desafiei a lê-lo. O livro é do autor californiano Jack London e tem como título “Chamado Selvagem”. A experiência de leitura foi maravilhosa, sendo minha porta de entrada pra literatura.



Qual foi o papel da leitura para a construção do seu eu autor?

L: Meu primeiro contato com os suspenses da inglesa Agatha Christie foi um divisor de águas para mim. Logo de cara percebi que um dia queria escrever algo parecido. No entanto, só na faculdade de Letras e Literatura, ao ter contato com a leitura de autores brasileiros, e tendo-os com referência, que me senti com maior domínio da escrita e resolvi arriscar meus primeiros textos longos. E não parei mais.



Consegue viver de literatura?

L: Seria maravilhoso, mas infelizmente ainda não alcancei esse feito. Seguirei escrevendo. Se um dia eu conseguir pagar minhas contas com a escrita, será por consequência de um constante empenho e aperfeiçoamento.



Qual a maior dificuldade que encontra para chegar ao público leitor?

L: Nós, autores independentes, somos nossos principais divulgadores, e, até conseguirmos construir uma rede social consistente para divulgarmos nossos trabalhos, demanda muito empenho e tempo. Acredito que quando o poder público investir mais nos novos escritores, adquirindo suas obras para as escolas e bibliotecas, ajudará muito na difusão dos mesmos. Enquanto isso, sigamos na luta, trabalhando para que tenha um público cada vez maior nos eventos literários, dos quais participamos.



Quais são suas referências literárias?

L: No início da minha caminhada como escritor eu lia muito os clássicos. Hoje me volto para os contemporâneos como, por exemplo, Raphael Montes, Patrícia Melo e Marçal Aquino. Só que sempre tem um romance da Agatha Christie na minha cabeceira para me inspirar.



Lida bem com as críticas?

L: Não é tão fácil recebe-las, por mais bem intencionadas que sejam. Porém, hoje em dia, depois de ver vários leitores se tornando fãs de minhas histórias, as críticas negativas já não me afetam. Muito pelo contrário. Fico atento a elas, pois podem servir para o meu crescimento.



Está trabalhando em algum livro no momento?

L: Sempre estou. Já não escrevo com a mesma voracidade de anos atrás, mas adoro ter uma trama na cabeça, e escrevê-la, aos poucos, em meu tempo livre.



O que seria de sua vida sem as letras?

L: Quando não estou curtindo minha família, escrever é o que mais gosto de fazer. Então, acho que meu cotidiano seria bem chato se eu não tivesse me descoberto escritor. É claro que gosto de fazer outras coisas, só que a magia das letras é algo insubstituível.



Dê uma (ou mais) dica(s) para quem quer ser escritor:

L: A gente só vai saber se leva jeito, ao deixar de lado a insegurança e começar a escrever sem medo de ser feliz. Às vezes, a pressa de publicar também atrapalha. Só jogue seu texto para o mundo quando ele estiver bem trabalhado; principalmente bem revisado; não o divulgue de qualquer maneira. Penso também ser fundamental que a pessoa estude sua língua, afinal, será sua ferramenta de trabalho. Mas eu acho que o mais importante de tudo, é que seja um bom leitor, pois não acredito em bom escritor que não lê. São as muitas leituras que nos dão bagagem e condições de escrever uma boa ficção.









Luciano Máximo é natural do Rio de Janeiro – RJ, mora em Linhares desde 1992. Cursou a faculdade de Letras e Literatura pela Universidade da Grande Dourados – MS; Pós Graduado em Educação de Jovens e Adultos. Atuou por anos como Professor de Língua Portuguesa e Literatura; é membro correspondente da Academia Espirito-santense de Letras, da Academia Cariaciquense de Letras (cadeira 18) e da Academia Capixaba de Letras e Artes de Poetas Trovadores (cadeira 63), e integra o Conselho de Cultura Municipal de Linhares. Também atua como músico de MPB, tendo se apresentado em vários eventos literários pelo Estado do Espírito Santo. É revisor de textos e responsável pela edição da revista mensal digital Literatura ao Máximo. Iniciou sua trajetória literária escrevendo crônicas em um blog, e publicou cinco livros.


terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Lançamento de livros da Academia Espírito-Santense de Letras

 

Livros lançados na noite de ontem (19/12/2022)

A Secretaria Municipal de Cultura (Semc) de Vitória e a Academia Espírito-Santense de Letras (AEL), lançou, na segunda-feira (19), quatro livros e um periódico. O evento ocorreu às 19 horas, na sede da Biblioteca Municipal Adelpho Poli Monjardim,que fica no Casarão Cerqueira Lima, localizado no Centro Histórico de Vitória.

com Francisco Aurélio Ribeiro, organizador do livro 
'Prisioneira da liberdade - Jeanne Bilich: vida e obra'

com Renata Bomfim, escritora que fez o estudo crítico do livro 
'Prisioneira da liberdade - Jeanne Bilich: vida e obra'

De acordo com a bibliotecária Elizete Caser o objetivo é o fomento à literatura entre o público de todas as idades e a divulgação da produção literária do Espírito Santo. "Ações como essa promovem o acesso democrático à leitura, à literatura e à cultura capixaba. Distribuiremos essas obras em escolas públicas, bibliotecas e também a todos àqueles que manifestarem interesse", declarou Elizete.



"A Academia, que tem o seu lema 'Semper Ascendere', com o convênio celebrado junto à Cultura de Vitória pôde dar continuidade a seu projeto "Incentivo à Cultura Literária", sacralizando, assim, suas finalidades: divulgar a leitura e incentivar a criação de bibliotecas por meio da reedição de publicação literária periódica, para oferecer a um público diverso oportunidades de leituras variadas e estimulo à produção literária, visando o desenvolvimento literário e cultural do Espírito Santo", afirmou a presidente da AEL, Ester Abreu Vieira de Oliveira.

"A AEL agradece aos escritores que atenderam o seu convite e enviaram seus textos, bem como a todos os que se envolveram para que esse projeto se tornasse realidade", completou a presidente.


com a escritora Janis H. Camargo e Eduardo Matos

com Auro Malaquias dos Santos, autor do livro 
'Manoel Jorge Rodrigues: o precoce poeta espírito-santense...'



As publicações estarão disponíveis à população já na segunda-feira (19). Confira os lançamentos:


•"Bairros de Vitória" - Coleção Escritos de Vitória, 37 - organização, Adilson Vilaça;
•"Memórias Capixabas" - Coleção José Costa, 35 - organização, Fernando Achiamé;
•"Manoel Jorge Rodrigues: o precoce poeta espírito-santense..." - Coleção José Costa, 34 - autor, Auro Malaquias;
•"Prisioneira da liberdade - Jeanne Bilich: vida e obra" - Coleção Roberto Almada, 34 - organização, Francisco Aurélio Ribeiro - notícias biográficas, Álvaro J. Silva e estudo crítico, Renata Bomfim;
•"Revista da Academia Espírito-Santense de Letras, edição comemorativa aos 102 anos da AEL, v. 2" - organização, Francisco Aurelio Ribeiro.

O lançamento das obras contou ainda com a participação da Orquestra de Cordas da Fafi e com a posse da diretoria da AEL.

com o clube de leitura Leia Capixabas (da esquerda para a direita):
Elaine Lordello, Henrique Pariz, Andréa Mascarenhas, Marcela Neves, Anaximandro Amorim

títulos lançados no dia 19 de Dezembro








Fonte: https://www.vitoria.es.gov.br/noticias/cultura-e-academia-espirito-santense-de-letras-lancam-obras-literarias-46602





quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Alguns versos de Caio Fernando Abreu

 


“Nunca pertenci àquele tipo histérico de escritor que rasga e joga fora. Ao contrário, guardo sempre várias versões de um texto, da frase em guardanapo de bar à impressão no computador”, confessou Caio Fernando Abreu na coletânea que ele próprio coligiu, antes de deixar órfãos seus leitores.


“Estou preparando uma surpresa literária para você. Prepare-se. Não posso adiantar muito porque tira a graça.” Caio F. em carta a Gerd Hilger


‘Poesias nunca publicadas’ é uma reunião de 116 poemas inéditos do autor, dos anos 1960 aos 1990, organizada pelas professoras e pesquisadoras Letícia da Costa Chaplin e Márcia Ivana de Lima.


Leitor atento de poesia, além de amigo de poetas como Hilda Hilst, Ana Cristina César e Mario Quintana, Caio F. elaborava seus versos no cotidiano, desviando o olhar para laços afetivos intensos. Seus poemas são repletos de elementos conhecidos de suas narrativas: o mofo das relações afetivas, a solidão de uma poltrona verde, a beleza singela das flores, a fumaça distraída de um cigarro, declarações de amor desesperadas e conversas insólitas. 


Além de ser um dos escritores mais importantes de sua geração e jornalista em vários veículos na impressa nacional Caio também é poeta e eu posso provar, seguem neste carrossel algumas poesias deste livro maravilhoso.

Espero que goste de uma faceta de Caio que eu sou apaixonado,

Boa leitura!






sábado, 3 de dezembro de 2022

Faz escuro mas eu canto (RESENHA) #SêPoesia

 

“El pulso del país se recobró como si despertara de una letárgica tristeza.” - Pablo Neruda, na introdução do livro

“Traduzido para mais de trinta idiomas, ‘faz escuro mas eu canto’ configura-se como um manifesto aberto de amor e crença na humanidade.” - trecho da orelha

O poeta não fala de um tempo ‘agora’. Ele versa a esperança de uma nova aurora que se encaminha pós-noite turbulenta.


“Cuidado, companheiro, esconde a rosa,
espanta a mariposa colorida,
é perigosa essa canção de amor.” - Pág. 24


Seus poemas leves vem sempre carregados de uma lembrança vivida, de um peso que não cabe em uma estrofe.


“Faz escuro (já nem tanto),
vale a pena trabalhar.
Faz escuro mas eu canto
porque a manhã vai chegar.” - Pág. 33


‘Faz escuro mas eu canto’ é um livro exilado, filho de uma ditadura. Mesmo com a pátria em seu peito o poeta encontra-se censurado da liberdade, em cada texto Thiago rompe a fronteira encontrando outros corações revolucionários.


“Não tenho nem faço rumo:
vou no rumo da manhã[...]” - Pág. 82




📚💙 Eu e a Thay do @galeoteca nos juntamos para falar sobre poetas massa e suas obras riquíssimas ao longo de 2022. Os escolhidos desse último mês do ano foram 'Faz escuro mas eu canto' de Thiago de Mello e 'Rotina dos Ossos' da Fabíola Mazzini


Bora Sê Poesia com a gente?!

A #SêPoesia é para mostrar poetas do Brasil, você tem alguma indicação? Diz aí.

Gostou de conhecer o Thiago? Já conhecia? Me conta também.