Ler ‘Amora’ é se arriscar num precipício de sentimentos; um livro que sopra poética com palavras doces com o mesmo vento te empurra penhasco abaixo a cada página.
“- Talvez você esteja usando a parte errada do corpo.
- O quê?
- Racionalizar tudo, analisar tudo, escrutinar tudo. Tente sentir mais…” - Pág. 63
Apesar de ser um livro de contos algumas vezes pesados ele me levou a uma narrativa da sensibilidade, com muitos fragmentos breves, sensíveis, suas prosas curtas me fisgaram.
“Angélica lhe sorriu e ajeitou uma mecha do cabelo de Amora. Ela suspirou. Amora sabia o que era aquilo, mas não entendeu como podia ser. Falaram tantas fases quanto podiam embaixo daquele ipê.” - Pág. 147
Enquanto lia pensava que ‘todas minhas amigas bi e lésbicas deviam lê-lo’ também, mas não só, aliás ele conta como aquelas mulheres contornam o que seus destinos haviam talhado em seus corpos e moldado suas vidas. Escrito suas histórias.
“… a Leci não era parente e toda vez que chegava para ficar, a moça da recepção lhe dizia que já havia um parente no quarto e que para o pernoite parentes tinham preferência. A tia Leci voltava para casa chorando.” - Pág. 176
Em uma de suas capas se resume bem o bem o que ‘Amora’ nos conta: “estas histórias revelam um delicado retrato do mundo sob a perspectiva de protagonistas repletas de nuances e complexidades. Juntas, elas formam um mosaico de violências, desejos, caos, ternura e liberdade…”
“… aquele momento infeliz que vivia… a felicidade obrigada, os planos, a vontade de ter filhos. Nada daquilo parecia atraí-la. Queria correr na direção contrária…” - Pág. 181
‘Amora’ venceu o Prêmio Jabuti, Açorianos e o AGES, foi traduzido e publicado em diversos países.
Natalia Borges Polesso é pesquisadora, escritora e tradutora. Tem oito livros publicados, entre eles, Recortes para álbum de fotografias sem gente, Amora, Controle, Corpos secos e A extinção das abelhas. Tem seus trabalhos publicados em diversos países, como Argentina, Espanha e Estados Unidos.
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“A extinção das abelhas: quando não há mais um enxame” (RESENHA)
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