"a-maior-função-do-homem-no-mundo-é-transformar-se-em--literatura" - Reinaldo Santos Neves

segunda-feira, 28 de março de 2022

De Pagu a Carlota Joaquina - Evento da ABL




SOBRE: 

Academia Brasileira de Letras dará continuidade ao ciclo de conferências “Brasil Moderno”, que celebra o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, na quinta-feira, 31 de março, às 17h30, com a conferência “De Pagu a Carlota Joaquina” de Carla Camurati. A coordenação do ciclo é do Acadêmico e poeta Geraldo Carneiro e a coordenação geral é do Acadêmico e Primeiro Secretário Joaquim Falcão. O evento será realizado no Teatro Raimundo Magalhães Jr., sede da Academia, na Avenida Presidente Wilson 203, Castelo, no Rio de Janeiro e a entrada é franca.


 

Importante: não é necessário inscrição para assistir online. Basta acessar esta página ou visitar o link  https://youtu.be/1DhVW4bwLF8, às 17h20, no dia do evento.

Certificados de presença são fornecidos apenas para aqueles que, devidamente inscritos, assistirem ao evento presencialmente.

Enfim, saiu o cronograma do nosso clube de leitura PALAVRAS CAPIXABAS de 2022:



Já marque a data e reserve seu exemplar!

Todos os encontros serão online (via Zoom), aos sábados e às 16 horas, então se programe pra não perder nenhum!

Nossos encontros:

📖 26/02: Zona de descarga, Isabella Mariano

📖 23/04: O ato do tio, Hugo Estanislau

📖 18/06: O som do tapa, Carla Guerson

📖 27/08: Guananira, Bernadette Lyra

📖 22/10: Território inominado, Fernanda Nali

📖 03/12: E quando borboletas carnívoras dançam no estômago, Ingrid Carrafa

Que lista, não?!
Curtiu e quer embarcar nesta? Entra no grupo vip do WhatsApp (pelo link da bio) e fique por dentro dos bate-papos.
Marque aquele amigo e amiga que não pode perder uma leitura dessas.

💙📚 E que 2022 seja de mais leituras coletivas: eu AMO!

PALAVRAS CAPIXABAS - Clube de leitura




Oieee, olha essa novidade!!!

Teremos um clube de leitura pra chamar de nosso, apresento o ‘Palavras Capixabas’:

Como vai funcionar?

📖 Serão encontros bimestrais, seis livros e seis autores para começar;
📖 Já temos um grupo no WhatsApp para trocas e escolhas dos títulos;
📖 Os bate-papos serão pelo Zoom;
📖 De preferência com a participação do escritor;

💙 E vai ter sorteio com sarau de fim de ano!

📅 Se inscreva via e-mail e entre no grupo vip do WhatsApp e já vamos nos programar para começar bem o ano.

📘 Ajude na divulgação - aceito dicas de autores também - e vamos espalhar a literatura contemporânea,

Te aguardo!

PARCERIAS ABERTAS



Escritora/escritor quer divulgar seu livro?
Aproveite que as parcerias para 2022 estão abertas a partir de agora!
Vale qualquer tipo de material; livro, livreto, zine.

Serão poucas vagas então não deixe para última hora!

Mande uma mensagem direta e conheça os pacotes de divulgação.

Que 2022 seja o ano de seu livro,

Só vem!





#Parcerias #InstaLivros #Books #MaisQueResenhas #InstaLiterario #LiteraturaBrasileira #AutorNacional #PalavrasMarginaES

‘Abandonados pela vida, amparados pela mãe Bahia de todos os Santos’, Capitães da Areia por Henrique Pariz (RESENHA)

 






💙📝 “Porque a revolução é uma pátria e uma família.” - Pág 256

“Em 1937, em frente à escola de aprendizes de marinheiros, em Salvador,  foram incinerados (...) os livros apreendidos e julgados como simpatizantes do credo comunista, a saber: 808 exemplares de Capitães da Areia” - (Reportagem do estado da Bahia, página 3, em 17 de dezembro de 1937)

Por que será que um livro de tamanha importância na história da Bahia e do Brasil mereça esse fim trágico nas fogueiras do estado, indago eu. Talvez pelas denúncias do trabalho infantil e do aliciamento de menores, da indução dos garotos à práticas como assaltos, assassinato, estupro, o retrato da baía de Jorge Amado pelos olhos e corpos dos capitães da areia.

💙📝 “Vestidos de farrapos, sujos, semi-esfomeados, agressivos, soltando palavrões e fumando pontas de cigarro, eram, em verdade, os donos da cidade, os que a conheciam totalmente, os que totalmente a amavam, o seus poetas.” -Pág 21

O livro narra as aventuras dos meninos e meninas abandonados, o descaso com a comunidade infantil criado pelas mazelas da pobreza e desigualdade, crianças que se viram como podem para arranjarem o que comer, o que vestir.

💙📝 “E eles esqueceram que não eram iguais às demais crianças, esqueceram que não tinham lar, nem pai, nem mãe, que viviam de furto como homens, que eram temidos na cidade como ladrões.” - Pág 73

“ Um cruzeiro com turistas de todo canto do país para em várias capitais, sendo uma delas Salvador. O guia logo os avisa para que levem pouco dinheiro e nada de valor. Um casal de amigos meus sobre o pelourinho para uma foto, quando são abordados por dois ‘moleques’. Segundo relato da própria assaltada: eles estavam com duas faquinhas e não tinham mais que 12 anos.”

Esse relato poderia muito bem fazer parte do livro de Jorge Amado de 1937 senão se passasse em 2000. Fato que ocorreu com uma amiga e que me fez enxergar o abismo social em que a Bahia da ficção ainda se encontrava.

💙📝 “Vão alegres. Levam navalhas e punhais nas calças. Mas só os sacarão se os outros puxarem. Porque os meninos abandonados também têm uma lei e uma moral, um sentido de dignidade humana.” - Pág 184

No livro vemos também uma forte influência religiosa, com os personagens José Pedro (padre que muitas vezes vai contra os ensinamentos da igreja para ajudar os garotos) e a mãe-de-santo Don-Aninha, figura pertinente na trama de Jorge Amado e na vida dos capitães.

💙📝 “Não se vive inutilmente uma infância entre os capitães da areia.” - Pág 218

Nem do livro. É uma imersão numa Bahia com grandes disparidades sociais econômicas, mãe de todos os garotos-homens. Uma Bahia mágica e muito realista, digna da censura do governo brasileiro e, sem dúvida, meu exemplar mais marcado.

Trechos que te farão querer ler o ‘PEQUENO MANUAL ANTIRRACISTA’





🖤📝 Da Introdução: “Com o tempo, compreendi que a população negra havia sido escravizada, e não era escrava” - Pág 8;

🖤📝 Do primeiro capítulo: “Mais grave é não reconhecer e não combater a opressão” - Pág 22;

🖤📝 Do segundo capitulo: “Crianças negras não podem ignorar as violências cotidianas, enquanto as brancas, ao enxergarem o mundo a partir de seus lugares sociais - que é um lugar de privilégio - acabam acreditando que esse é o único mundo possível” - Pág 24;

🖤📝 Do quarto capítulo: “(...) a Lei n. 10639/2003, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação para incluir a obrigatoriedade do ensino da história africana e afro-brasileira” - Pág 41;

🖤📝 Do quinto capítulo: “Um garoto que precisa vender pastel para ajudar na renda da família e outro que passa as tardes em aulas de idiomas e de natação não partem do mesmo ponto” - Pág 44;

🖤📝 Do oitavo capítulo: “Nos processos de colonização, a visão de cultura do colonizador foi imposta, enquanto bens culturais eram saqueados” - Pág 70;

🖤📝 Do décimo capítulo: “Segundo dados da Anistia Internacional, a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil, o que evidencia que está em curso o genocídio da população negra, sobretudo jovens” - Pág 94

🖤📝 Do último capítulo: “Pessoas brancas devem se responsabilizar criticamente pelo sistema de opressão que as privilegia historicamente, produzindo desigualdades, e pessoas negras podem se conscientizar dos processos históricos para não reproduzi-los” - Pág 108

💛📝 Sobre a autora: Djamila Ribeiro nasceu em Santos. É mestre em filosofia política, colunista do jornal Folha de São Paulo e foi secretária-adjunta de Direitos Humanos e Cidadania do município de São Paulo. Em 2018, integrou a lista das cem pessoas negras mais influentes do mundo com menos de quarenta anos, distinção apoiada pela ONU. Em 2019, recebeu do governo francês o título de personalidade do amanhã e ganhou o prêmio holandês Prince Claus por suas ações em defesa dos direitos humanos e da justiça social.

🖤📝 Ps. Grifei o livro quase todo. É realmente um livraço de cabeceira.

Mayombe, a protetora dos guerrilheiros, Pepetela por Henrique Pariz (RESENHA)



“Tens de te habituar aos homens e não aos ideais.” - Pág 21

🍃 O livro trata de uma luta da qual o próprio povo se abstém, onde os guerrilheiros mesmo com suas diferenças sabem que a enfrentam por um bem maior: a independência total de seu país. Não se trata de alguns povos específicos, é uma luta para o povo Africano.

“Zeus se vergava à coragem, graças a Prometeu que lhes dá a inteligência e a força de se afirmarem homens em oposição aos deuses. Tal é o atributo do herói, o de levar os homens a desafiarem os deuses.
Assim é Ogun, o Prometeu africano.” - Pág 68

🍃 Mayombe se passa quase que inteiro na floresta, na base, onde seus personagens montam suas estratégias, e em cada capítulo o autor nos apresenta um deles. E assim vai se costurando a história, entre um diálogo e outro (diga-se de passagem: muito ricos), neles os homens do Mayombe falam de suas dores, suas paixões, em muitos deles debatem filosófica e politicamente.

“É como o marxismo. Serve de guia, de inspirador para a ação, mas não te resolve os problemas práticos...” - Pág 92

🍃 Mayombe é um ato revolucionário, mais que um simples livro do autor Pepetela, é nele que o escritor esmiúça as faces da repressão, do ódio e do colonialismo.

“A revolução é feita pelas massas populares, única entidade com capacidade para a dirigir” - Pág 102

🍃 Pepetela, que participou da guerra pela libertação de seu país, narra com precisão de detalhes a trajetória dos combatentes do Movimento Popular de Libertação de Angola (o MPLA).

🍃 Mayombe, um livro histórico e importante para o mundo, magnífico retrato de uma das mais significativas lutas do povo para sua futura liberdade. Principalmente perante as tropas portuguesas, mas não somente. Mas o combate as diferenças sociais, culturais e políticas para uma Angola unificada é livre.

“Onde eu nasci, havia homens de todas as línguas vivendo em casas comuns e miseráveis da Companhia(...)
O primeiro bando a que pertenci tinha mesmo meninos brancos, e tinha miúdos nascidos de pai umbundo, tchokue, kimbundo, fiote, kuanhama.” - Pág 120

‘Seca: provisões da miséria’, Graciliano Ramos por Henrique Pariz (RESENHA)





A língua seca de Baleia nos ensina que o caminho que se segue será de total falta: de comida, água, de sandálias, de perspectiva, de vida.

🍂 “Iam-se amodorrando e foram despertados por Baleia, que trazia nos dentes um preá(...)
Aquilo era caça bem mesquinha, mas adiaria a morte do grupo. E Fabiano queria viver.” - Pág 14

Acompanhamos uma família que se contenta com pouco. Devo acrescentar que quantidade é bastante relativo se tratando de Fabiano e sua prole.

🍂 “Os troços minguados ajuntavam-se no chão: a espingarda de pederneira, o aió, a cuia de água e o baú de folha pintada. A fogueira estalava. O preá chiava em cima das brasas(...)
Baleia agitava o rabo, olhando as brasas. E como não podia ocupar-se daquelas coisas, esperava com paciência a hora de mastigar os ossos.” - Pág 16

Esse clássico só me reforçou de nossos privilégios: uma casa, refeições diárias, água potável, etcetera. Me fez ver que as desigualdades que habitavam o sertão de 1958 ainda hoje reflete nas ‘classes’ sociais brasileiras.

🍂 “Tudo ali era estável, seguro. O sono de Fabiano, o fogo que estalava, o toque dos chocalhos, até o zumbido das moscas, façam-lhe sensação de firmeza e repouso.” - Pág 44

Fabiano e sua família sempre de bocas abertas, arqueados, à espera de algo, bebendo e comendo ventos muita das vezes. A única coisa que tinham medo era da seca: reflexo da miséria que acompanhavam-lhes.

🍂 “(...)acharia um lugar menos seco para enterrar-se.” - Pág 118

Os personagens vivem uma utopia do início ao fim do livro, quase um loop. No romance de Graciliano fica claro também o abuso de poder das autoridades locais: a polícia (tratada por ele como os ‘soldados amarelos’), além dos políticos, o juiz, promotor e delegado.

🍂 “Era um desgraçado, era como um cachorro, só recebia ossos. Por que seria que os homens ricos ainda lhe tomavam uma parte dos ossos? Fazia até nojo pessoas importantes se ocuparem com semelhantes porcarias.” - Pág 97

📔 Uma dica para esta leitura: tenham em mãos um dicionário, pois a história é permeada de vocábulos regionais, o qual não ouvimos comumente por ai. 

'A palavra rasgada na superfície’, por Henrique Pariz (RESENHA)



“... ainda estou presa entre montanhas fechadas. Presa, presa. Onde está a imaginação? Ando sobre trilhos invisíveis. Prisão, liberdade.” - C.L.

Os textos de Sarah arranham meu ‘eu leitor’, eles são capazes de esmiuçar a própria camada da palavras.
No início do livro temos como abertura um trecho de Clarice Lispector o que se reflete em seus contos, onde a autora trabalha muito bem com sua matéria-prima: a própria palavra.

“Precisava escrever e chorar, e amar, e matar (...) A palavra plastificada, de difícil acesso, pela qual o leitor não pacienta o desembrulhar da obra” - Pág 75

Sarah é incrível. Percebo no primeiro texto, curto, de uma só página, onde a literatura torna-se personagem principal.
Mostrou também que é uma observadora dos cotidianos comuns, mas seus escritos transpassam o real. Ela, como as grandes autoras que a antecede, converte a realidade, o monótono, preenchendo o vazio do dia a dia.

“Acostumou-se com as trágicas portas porque a superação também era mais intensa. E viver naquele mundo era bom. Ninguém mais conseguia sentir o cheiro podre, embora ele nunca estivesse sumido.
Quando perceberam que o cheiro fétido vinha de alguns habitantes, trataram rapidamente de criar a primeira penitenciária do mundo novo.” - Pág 29

Vervloet debulha os mais variados acontecimentos e lhes dá os mais ‘estranhos’ caminhos. Não esperem um livro comum.
Com contos rápidos e - nem sempre - fácil de ler a escritora nos faz mergulhar em seu mundo duma maneira nada superficial.
Senti que, na maioria dos contos, é usado a técnica do micro-conto (estilo que Sarah já está acostumada a trabalhar) - mesmo que o formato pareça de um conto clássico, alguns com até 3 páginas - onde ela te joga na história sem paraquedas entre as palavras de ‘a superfície do mundo’.

“As pessoas são muitas, escassas, porque ninguém está ali para estar. O metrô é a pressa. O que eu faço é colocar a pressa em câmera lenta.” - Pág 102

Uma dica para essa leitura: mergulhe, sem cautela.

‘os sintomas é que ficam’ por Henrique Pariz (RESENHA)

Sintomas de Renan Peres (Editora Pedregulho, 2020)


Sintomas é o calendário de nossos dias incomuns, são as horas em que passamos dormentes de versos. Estes, às vezes, vem como pancadas secas e sujas, como Verly bem diz em seu prefácio-diagnóstico: “nenhum consolo. Mas toda a potência.”

‘a cor de sua roupa
a rotatividade das ideias
a sócio-política do país

as coisas todas passam
os sintomas é que ficam’ - Pág 31

Um órfão da tempestade é Renan, vagando com seus apocalípticos versos feito cavaleiro, carregando seu caderno embolorado sob os braços, enunciando velhas profecias.

‘mundo esqueleto sem língua’ - Pág 42

O autor nos mostra que em nosso país os sabiás gorjeiam no mesmo poleiro, criados em suas miúdas gaiolas, à mercê de seus carrascos: a falta súbita e conformada de liberdade. Um canto mudo.

‘ter sempre a chave a poucos metros de distância
ter as asas cortadas à risca’ - Pág 49

Uma poesia que acho muito nova, veio mesmo para desbravar os antiquados lares clássicos, ao som da boa e velha falta de rima. Nosso mundo pede um pouco mais de subversão e isso tem de sobra em ‘sintomas’.

‘estão todos embebidos dos cálices da degradação’ - Pág 51

Renan brinca na ladeira, depois brinda a brincadeira que lhe herdou sintomas. Querido poeta creio que, terei que dar uma passadinha no hospital dos afetados por versos-hematoma.

‘ensinou que, na dor
da perda, nosso amor
dialoga: língua morta’ - Pág 71

Aos que acharam só negatividade vinda destes versos digo que não, também fala-se de amor em algumas das páginas, estas exclusivas à um amor pagão & só. Veja o que delas o autor nos diz:

‘meu amor, é isso, assim:
como o brasil vê as margens,
desejo-conveniência,
ponto de engabelação’ - Pág 76

O poema fragmentado ‘só’ pra mim é uma obra-prima, sendo que, cada parte do mesmo transcreve o autor e seu entorno. Dele separei os seguintes versos:

‘a tristeza urbana era antes mascarada
a cidade em sua rotina agora é triste a todos’

‘no seu mundo jamais serei pedestre
suas ruas me foram interditadas
está proibido nos cruzarmos’ - Págs 92/93 respectivamente.




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‘A culpa é minha’, Clarice Lispector por Henrique Pariz (RESENHA)



Clarice é a escritora da (re) releitura.
O muito pouco que li de seus textos diz, mais precisamente com enfoque em A hora da Estrela, mais dela que de seus personagens.

“ Enquanto eu tiver pergunta é não houver resposta continuarei a escrever. ” - Pág 11

O que mais me encanta em sua escrita são como as palavras habitam-na e como ela sintetiza e as extrai: criando suas camadas.

“ Era a primeira vez que chorava, não sabia que tinha tanta água nos olhos. ” - Pág 51

Ponto negativo, não sei se posso dizer assim, é que, em alguns trechos o autor (na verdade Clarice Lispector) coloca a personagem principal Macabéa na condição de mulher ‘fraca’. Clarice, ou satiriza com sua própria fraqueza, prefiro assim pensar - saberei nas (re) leituras futuras -, sendo ela ou não machista usando de tais descrições.

“ e até o que escrevo um outro escreveria. Um outro escritor, sim, mas teria que ser homem porque escritora mulher pode lacrimejar piegas. “ - Pág 14

Por fim, acrescente que, o escritor/ narrador conversa com Deus, renega-o, o aceita algumas vezes, já outras tem o seu próprio complexo de sê-lo: tendo em suas mãos os personagens incluindo Macabéa a quem deixa bem claro nutrir um afeto especial. Tem em suas mãos a potência de toda narrativa, ele (o autor)/ ela mesma (Clarice) personificam o deus na história.

“ Eu poderia resolver pelo caminho mais fácil, matar a menina-infante, mas quero o pior: a vida. Os que me lerem, assim, levem um soco no estômago para ver se é bom. A vida é um soco no estômago. “ - Pág 83

Por isso tomei em minha primeira leitura de C. Lispector a primeira opção como título do livro: dou-a total responsabilidade pelas consequências da história e a firmo com todas as letras que a culpa é toda sua.

“ É assim que se escreve? Não, não é acumulando e sim desnudando. Mas tenho medo da nudez, pois ela é a palavra final. “ - Pág 82



Título: A culpa é minha ou A hora da Estrela

Autore: Clarice Lispector
Editora: Rocco
Páginas: 87
Gênero: Romance/ Novela

‘Uma tinta que vem dum lugar nada mágico, mas um tanto magoado’ por Henrique Pariz (RESENHA)





“Vi as flores roxas. A cor da agrura que está nos corações do brasileiros famintos.” (Pág 141)

É muito difícil resenhar Carolina. A fome é realmente amarela, ela mancha a boca e a barriga e as letras da escritora.
Carolina tem em sua escrita uma poética tristemente colorida.
Seguem trechos de seu diário, muitas vezes indigestos : escritos a maioria das vezes de dentro do que ela chamava ser seu ‘Quarto de despejo’.

“Continua chovendo. E eu só tenho feijão e sal.” (Pág 30)

Há exatos sessenta anos era lançado um diário que conta a realidade escancarada de um povo que sofre, escrito com sangue e ódio, por uma simples transeunte do nosso tempo. Uma mulher sem nome e sem endereço registrado no mundo, mas que, anos depois fica mundialmente conhecida por descortinar uma sociedade inteira.

“Parece que eu vim no mundo predestinada a catar. Só não cato a felicidade.” (Pág 81)

Quando um ‘gringo’ quiser conhecer o Brasil de verdade diga a ele para desligar a TV e ler Carolina. Não terá nada de Carnaval, nem praia, muito menos ‘presidente do povo’. Mas há sim a verdadeira desigualdade de um brasileiro que vive no quarto de despejo.

“As dificuldades corta o afeto do povo pelos políticos.” (Pág 33)

Sim, as favelas sempre existiram e, segundo Carolina, é lá onde jogam os pobres e analfabetos. Lá moram os tipos apagados pelos governos, mas aqui, nestas páginas, estão cada vez mais coloridos.

“Eu cato papel, mas não gosto. Então eu penso: Faz de conta que eu estou sonhando.” (Pág 29)




Título: Quarto de Despejo - Diário de uma favelada
Autor: Carolina Maria de Jesus
Editora: Ática
Páginas: 199
Gênero: Romance